No panteão dos heróis da Revolução Chinesa falta uma figura emblemática. Como naqueles retratos de líderes comunistas que, por terem caído em desgraça, são apagados para dar a impressão de que nunca existiram, a imagem de Li Lisan sumiu da história oficial da República Popular da China. Dirigente das célebres rebeliões comunistas em Xangai e Cantão em 1927, precursor de Mao Tsé-tung na liderança do Partido Comunista, prisioneiro de Josef Stálin na época do Grande Terror, ministro do Trabalho nos primeiros anos da China vermelha e, por fim, prisioneiro da guarda vermelha maoísta durante a Revolução Cultural (1966-1976), Li Lisan é finalmente resgatado no belíssimo livro O império vermelho – a história de quatro militantes comunistas unidos pela paixão e pelo terror em Moscou e Pequim, 1919-1989 (Objetiva, 578 págs., R$ 49,90), do jornalista Patrick Lescot. Trata-se da história de Li Lisan, seu camarada Zhao Bang, e suas respectivas mulheres russas, Lisa e Nádia, tendo como pano de fundo a máquina totalitária dos regimes comunistas soviético e chinês, entre 1919 e 1989.

O que chama a atenção na trágica saga dessas quatro vidas é que seus protagonistas passaram por provações inimagináveis – das lutas clandestinas à guerra, das prisões do NKVD (antecessor do KGB) ao exílio na Sibéria e às humilhações sofridas durante a desastrosa Revolução Cultural – sem jamais renegarem a fé nos ideais comunistas. Escrito sob forma de reportagem, O império vermelho não se inscreve na galeria fácil da literatura anticomunista, embora descreva implacavelmente as entranhas e bastidores dessas tiranias. É antes de tudo uma narrativa sensível da saga trágica de personagens grandiosos.