Ele encantou o mundo ao erguer uma obra de arte no meio do nada. Os 83 edifícios de Brasília projetados por Oscar Niemeyer, carioca, 91 anos, parecem seguir à risca sua receita: "Arquitetura tem que ser bela, leve, e ainda por cima criar surpresas", disse Niemeyer, certa vez. É dele também a idéia de que nossa paisagem urbana há de celebrar o triunfo da beleza. Da mágica prancheta de Niemeyer brotaram prédios em oito capitais do País e mais 30 municípios do interior, desde um colégio inaugurado há 50 anos em Cataguazes, no interior de Minas Gerais, ao futurístico Museu de Arte Contemporânea de Niterói (RJ). Arquiteto brasileiro mais admirado no Exterior (projetou mais de 180 edifícios em 16 países e foram publicados livros a seu respeito em francês, inglês, russo, italiano, espanhol, alemão, japonês e grego), Niemeyer encabeça a lista dos Brasileiros do Século na categoria Arquitetura e Artes Plásticas, de acordo com a indicação de um corpo de jurados convocado por ISTOÉ. Em segundo lugar, está o pintor expressionista Cândido Portinari. Em 1942, Portinari foi convidado pelo governo americano a pintar seus painéis na sala da Fundação Hispânica, na biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington. Quatro anos mais tarde, Niemeyer participou com mais dez arquitetos de todo o mundo do projeto de construção do edifício da ONU. De lá para cá, o reconhecimento internacional consagraria a ambos como brasileiros especiais, a exemplo dos outros 28 nomes que integram a lista dos jurados. Agora, caberá ao leitor escolher os arquitetos e artistas de sua preferência. Os vencedores terão suas biografias publicadas em fascículo especial no final de maio (na categoria Esportista, venceu Ayrton Senna; Chico Buarque foi eleito o Músico do Século; e, por fim, Fernanda Montenegro abocanhou o prêmio de Artes Cênicas.

Em Arquitetura e Artes Plásticas, no total, foram citados 273 nomes pelo júri. Mais do que em categorias anteriores, desta vez, temos várias personalidades eleitas que não nasceram no Brasil, embora tenham aqui desenvolvido sua obra. São os casos dos pintores Alfredo Volpi (nascido na Itália) e Lasar Segall (de origem russa), além dos escultores Franz Weissmann (austríaco) e Victor Brecheret (outro italiano). Encontram-se na mesma situação os arquitetos Lúcio Costa (nasceu na França, filho de brasileiros) e Afonso Eduardo Reidy (parisiense). Na opinião da maioria dos integrantes da bancada de notáveis, sem a inclusão destes brasileiros por opção, não se poderia retratar com fidelidade o que se passou em arquitetura e artes plásticas no século 20. Como sempre, alguns jurados queriam extrapolar o limite de 30 nomes indicados. "Não é possível. A lista ficou muito enxuta. Caberia muita gente ainda", reclamou a artista plástica italiana, naturalizada brasileira, Maria Bonomi. Já o arquiteto Philippe Torelly estipulou como meta votar apenas nos nomes mais expressivos. Talvez, por isso, sua relação não ultrapassou 26 indicações. "Quem não merece figurar na lista foi deixado de fora", justificou ele. Mas é um juízo muito severo.

Não dá para negar que, em função do limite de 30 votos, foram excluídos da relação definitiva personalidades importantes para a história tanto de Arquitetura quanto das Artes Plásticas no País.

Carlos Lemos, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, fez questão de lembrar de Ramos de Azevedo (1886-1928). "Azevedo modernizou a cidade de São Paulo", justifica Lemos. Entre as obras do arquiteto, estão o Teatro Municipal da capital paulista, além do prédio dos Correios e Telégrafos, na praça do Correio, entre outras. A artista plástica Antonietta Tordino chamou a atenção pelo esquecimento de José Cucé, escultor descendente de italianos, responsável pela estátua de Rui Barbosa no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, e também pelas esculturas no subsolo da Catedral Metropolitana da Sé, onde estão enterrados os ex-arcebispos de São Paulo.

O arquiteto carioca Paulo Casé fez questão de explicar os motivos de não incluir em sua relação nomes de grande relevância como Tunga, Siron Franco e Paulo Mendes da Rocha, entre outros. Segundo Casé, que utilizou como critério eleger artistas cujas obras se destacam pelo longo tempo de atuação durante o ciclo histórico em questão, nomes que se tornaram famosos muito recentemente não podem ainda figurar numa lista de melhores do século. "O grande consolo para os excluídos é que, numa futura seleção relativa ao século 21, serão candidatos certos a essa honraria e eu espero estar aqui para votar neles", aposta Casé.

Duas artistas plásticas, velhas conhecidas, se reencontraram no júri de ISTOÉ. Iole Di Natale foi professora de Antonietta Tordino no colégio Santa Marcelina, em São Paulo, há 30 anos, e desde então não escondem uma admiração recíproca. Prova disso é que uma votou na outra, sem que soubessem integrar a mesma bancada de jurados.

Difícil foi justificar alguns votos, como os dados a Mário de Andrade e Oswald de Andrade, os principais nomes da Semana de Arte Moderna, de 1922, ambos poetas e escritores, além de ensaístas e críticos de arte. "Mário e Oswald de Andrade podem ser considerados depósitos de idéias que mais tarde se processaram na Arquitetura ou mesmo se expressaram nas Artes Plásticas", tentou explicar Emanoel Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Também o fotógrafo Sebastião Salgado foi lembrado – "ao desenvolver um tema ideológico, retratando o sofrimento popular, ele ganhou reconhecimento internacional", diz o arquiteto baiano Fernando Peixoto. O cartunista Ziraldo, igualmente, recebeu o voto de Peixoto. "Ziraldo trabalha com um humor essencialmente brasileiro", afirma Peixoto. Por último, o artista baiano citou Cravo Filho, um fotógrafo que mergulhou na raiz étnica brasileira, e o francês Pierre Verger, especialista em temas afro-brasileiros.

 

E O PRÊMIO VAI PARA…
Indique os arquitetos e artistas plásticos do século

Oscar Niemeyer Tinha 35 anos quando revolucionou a arquitetura com as atrevidas curvas dos prédios da Pampulha (MG). Nos anos 50, surpreendeu o mundo ao projetar Brasília. Em São Paulo, ergueu o Memorial da América Latina, inaugurado no final dos anos 80. Niemeyer, carioca nascido em 1907, é não apenas nosso arquiteto mais conhecido internacionalmente como também um dos brasileiros mais importantes do século. 26 votos.

Cândido Portinari Nasceu em Brodósqui (SP), em 1903. Aos 17 anos, apresentou sua primeira obra, Baile na roça. Em 1942, foi convidado pelo governo americano para pintar a sala da Fundação Hispânica na biblioteca do Congresso em Washington. O reconhecimento internacional se consolidou quando o Museu de Arte Moderna de Nova York integrou a seu acervo o quadro O morro, na década de 50. 25 votos.

Alfredo Volpi Nascido em Lucca, na Itália, o pintor (1896-1988) foi influenciado pelo muralismo mexicano e atingiu a maturidade de sua arte nos anos 50 com o abstracionismo geométrico, usando como temas mastros e bandeirinhas de festas juninas. 24 votos.

Lúcio Costa Arquiteto natural de Toulon, França, Costa (1902-1998) foi um dos responsáveis pela implantação da arquitetura moderna no País. Em 1938, venceu o concurso para o projeto do Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York, mas permitiu que Oscar Niemeyer, segundo colocado, fosse escolhido por julgar o trabalho do colega melhor. Trinta anos depois, realizou o plano de urbanização da Barra da Tijuca, no Rio. 22 votos.

Emiliano Di Cavalcanti O pintor carioca Di Cavalcanti (1897-1976) participou da Semana de Arte Moderna em 1922. Duas mulatas (1961), em que retrata os subúrbios cariocas, e Carnaval (1965) refletem a essência de sua obra: a brasilidade. 21 votos.

Tarsila do Amaral Pintora natural de Capivari (SP), Tarsila (1897-1973) frequentou a Acadèmie Julien, em Paris, em 1917. Retornou ao Brasil em 1924, percorrendo as cidades históricas mineiras, onde colheu a inspiração para incorporar à sua obra a tradição barroca. Criou um estilo de pintura denominado Pau-Brasil. 20 votos

Roberto Burle Marx Paulistano, o paisagista (1909-1994) iniciou sua carreira, em 1933, projetando um jardim para casa construída pelo arquiteto Lúcio Costa. É responsável pelos jardins da praia de Botafogo (RJ) e do Parque do Ibirapuera (SP). 20 votos.

João Batista Vilanova Artigas O curitibano Vilanova Artigas (1915-1995) é lembrado como arquiteto que projetou o prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e o estádio do Morumbi em São Paulo. Mas de sua prancheta também nasceu um plano de reurbanização do Vale do Anhangabaú (SP). 19 votos.

Afonso Eduardo Reidy Natural de Paris, como urbanista da Prefeitura do Rio, Reidy (1909-1964) realizou o aterro da avenida Beira-Mar, o túnel Rio Comprido–Lagoa e o Museu de Arte Moderna. 16 votos.

Alberto da Veiga Guignard Natural de Nova Friburgo (RJ), o pintor Guignard (1896-1962) esteve na Alemanha e foi influenciado por mestres expressionistas. Nos últimos anos de vida pintou temas religiosos, como Via Sacra (1961) para a Capela São Miguel (RJ). 15 votos.

Lina Bo Bardi Nascida em Roma, a arquiteta (1914-1992) chegou ao Rio em 1946. Em 1951, naturalizou-se brasileira. Em 1947, projetou o Museu de Arte de São Paulo (Masp), sua principal obra arquitetônica, que só viria a ser inaugurada 20 anos depois. 14 votos.

Gregori Warchavchik Descendente de russos, Warchavchik (1896-1972) nasceu em Odessa (SP). Entre 1918 e 1920, estudou em Roma. Projetou conjuntos de casas econômicas na Mooca (SP), em 1929, e na Gamboa (RJ), em 1931. 14 votos.

Paulo Mendes da Rocha Capixaba nascido em 1928. Atualmente leciona na FAU-USP. Construiu a Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina (1956) e foi o responsável pela urbanização do Porto de Vitória em 1993. 14 votos.

Lygia Clark Pintora e escultora natural de Belo Horizonte (1920-1988), estudou arte em Paris. Participou das Bienais de São Paulo (de 1953 a 1963) e do Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio (1954 a 1957). 14 votos.

José Pancetti Pintor nascido em Campinas (SP), Pancetti (1904-1959), filho de italianos, foi operário na Itália até voltar ao Brasil, em 1922. Em 1925, apresentou seu primeiro trabalho, Marinhas. 13 votos.

Hélio Oiticica Pintor carioca, Oiticica (1937-1980) foi um dos mentores do movimento tropicalista, no final dos anos 60. Criou os parangolés, capas de panos que as pessoas vestiam para admirar suas exposições de forma interativa. Muito largas, eram feitas para se dançar nos ateliês. 13 votos.

Iberê Camargo Gaúcho de Restinga Seca (RS), o pintor e gravador Iberê (1914-1994) tem a série Carretéis (gravuras e telas), como sua principal obra. 13 votos.

Rino Levi O paulistano Levi (1901-1935) deixou sua marca na paisagem de sua cidade natal. Formado pela escola de Arquitetura de Roma (1926), sua obra inclui o edifício Columbus (1934) e o Viaduto do Chá (1934). 12 votos.

Lasar Segall Pintor e gravador nascido na Lituânia (1890-1957), desembarcou no Brasil em 1912. No início do século estudou pintura na Alemanha e foi influenciado pelo expressionismo. Mas a descoberta das cores tropicais brasileiras superou o impacto da influência européia. 12 votos.

Osvaldo Goeldi Gravador e desenhista, o carioca Goeldi (1895-1961) matriculou-se em 1917 na École des Arts Décoratifs, em Genebra. De 1930 a 1931 esteve na Alemanha, voltando ao Brasil para desenvolver seu estilo expressionista. 12 votos.

Bruno Giorgi Nascido em Mococa (SP), o escultor Giorgi (1905-1995) recebeu o prêmio de melhor escultor nacional em 1953. Entre suas mais importantes obras destacam-se Monumento à juventude brasileira (1940), nos jardins do palácio da Cultura no Rio, e Dois guerreiros, na praça dos Três Poderes em Brasília. 11 votos.

Flávio de Carvalho (1899-1973) Nasceu no Rio. Recebeu prêmio no concurso para o Palácio Municipalidade de São Paulo (1939 e 1952). 11 votos.

Sérgio Bernardes Carioca nascido em 1919, é autor do mausoléu do ex-presidente Castello Branco e do mastro da Bandeira na Praça dos Três Poderes em Brasília. 11 votos.

Manabu Mabe Pintor nascido no Japão, Manabu Mabe (1924-1997) chegou ao Brasil em 1934. Pintou seus primeiros quadros em 1945 e seis anos depois já participava do Salão Nacional de Belas-Artes. 10 votos.

Anita Malfatti Pintora nascida em São Paulo (1896-1964), estudou na Alemanha e recebeu influências do expressionismo germânico e do cubismo francês. Em 1917, realizou em São Paulo uma exposição que se tornaria marco do modernismo. Obras: A estudante russa e A boba. 9 votos.

Victor Brecheret Escultor italiano (1894-1955), estudou arte em Roma e foi influenciado por Rodin. No Brasil, fundou o modernismo escultórico expondo na Semana de Arte Moderna. É autor do projeto do Monumento às Bandeiras, no Parque do Ibirapuera (SP). 9 votos.

Carlos Scliar Nasceu em Santa Maria (RS), em 1920. Atuou como editor da revista Senhor. 8 votos.

Oswaldo Bratke Arquiteto nascido em Botucatu (1907-1998), a partir de meados da década de 50 engajou-se em projetos de assentamentos urbanos, sendo a Vila Serra do Navio, no Amapá, seu trabalho mais conhecido. 7 votos.

Milton Dacosta Carioca de Niterói, o pintor e gravador Dacosta (1915-1988) conquistou, em 1955, prêmio de melhor pintor nacional na bienal de São Paulo. 7 votos.

Franz Weissmann Nascido na Áustria em 1911 e trazido ao Brasil aos dez anos. Naturalizou-se e foi um dos pioneiros da arte abstrata. 7 votos.

 

ELENCO DE PRIMEIRA
Conheça os jurados escolhidos por ISTOÉ

Fernando Peixoto Arquiteto baiano com projetos executados em oito Estados brasileiros.

Carlos Lemos Arquiteto paulistano, professor titular do Departamento de História da Arquitetura da FAU-USP.

Éolo Maia Arquiteto de Belo Horizonte. Realizou projeto de recuperação da Lagoa da Pampulha.

Enio Cintra Artista plástico de Santos. Conselheiro do Sindicato dos Artistas Plásticos do Estado de São Paulo.

Maria Elisa Meira Arquiteta carioca, presidente da Comissão de Especialistas de Ensino de Arquitetura e ex-diretora da escola de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense.

Manoel Coelho Arquiteto de Florianópolis, participou do bem-sucedido Planejamento Urbano de Curitiba.

Maria Bonomi Artista plástica italiana. Concluiu recentemente painéis em concreto na estação de metrô Jardim São Paulo (SP).

Fernando Guimarães Tavares Artista plástico pernambucano.

Eduardo Bimbi Presidente da Federação Nacional dos Arquitetos do Brasil, natural de Porto Alegre.

Elizabeth Jobim Carioca, artista plástica, filha de Tom Jobim. Em 1992 concluiu mestrado na School of Visual Arts, em Nova York.

Luiz Philippe Torelly Arquiteto carioca. Ex-secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano do governo Cristovam Buarque (DF).

Eduardo Veras Editor de Cultura no jornal Zero Hora desde 1993.

Valeska Pinto Presidente do Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo.

Leonardo Alencar Artista plástico de Sergipe.

Fernando Costa Arquiteto de Natal (RN), é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Antonietta Tordino Pintora paulistana, é membro executivo da Associação Internacional de Artes Plásticas.

Ruy Ohtake Arquiteto paulistano, projetou o jardim e museu aberto do Museu de Arte das Américas, da Organização dos Estados Americanos (1995).

João Pecci Natural de São Paulo, é artista plástico e irmão do compositor Toquinho.

Paulo Porcella Artista plástico gaúcho.

Iole Di Natale Em 1984 recebeu prêmio de melhor gravadora pela Associação Paulista dos Críticos de Arte.

Gilberto Coelho Professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná desde 1980.

Luiz Paulo Conde Prefeito do Rio de Janeiro e arquiteto.

Paulo Casé Carioca, arquiteto que desenvolveu projeto para o Rio-Cidade em Ipanema.

José Roberto Teixeira Leite Presidente da Associação Brasileira dos Críticos de Arte.

Ana Maria Netto Nogueira Natural de São Carlos (SP), professora da Faculdade Anhembi-Morumbi.

Walter Sebastião Jornalista, trabalha no O Estado de Minas (MG).

Paulo Herkenhoff Capixaba, é crítico de arte há 16 anos. Prepara-se para dirigir um departamento no Museu de Arte Moderna de Nova York.

Célia Corsino Museóloga e diretora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Carlos Bratke Paulistano, é presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

Emanoel Araújo Nascido em Santo Amaro da Purificação (BA). Artista plástico e diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo.