Os usuários dos computadores Macintosh, da Apple, formam uma tribo de fanáticos. Por isso, o clima na manhã da quarta-feira 19, na inauguração da feira bianual Macworld, no Jacob Javits Center – o maior parque de exposições de Nova York – era o de uma assembléia de seita carismática. E Steve Jobs, com a áura messiânica de quem fundou a empresa em 1975, não decepcionou seus seguidores. Em pouco mais de duas horas de preleções, ele anunciou produtos e ícones estéticos para idolatria dos fiéis. Um pequenino, mas poderoso cubo translúcido arrancou gritos da platéia. Era o novo Mac G4 Cube – ou simplesmente “The Cube” (o cubo), como foi rebatizada a minúscula caixa de 20 centímetros de diâmetro, que contém processador de 450 MHz, 64 megabytes de memória, 20 gigabytes de disco rígido e acionador de DVD. Um computador poderoso que trabalha em silêncio, pois não precisa de ventilador para esfriar seus circuitos, usando um sistema diferente de refrigeração. “O design arrojado e o pioneirismo tecnológico são nossos mantras”, explicou Jobs a ISTOÉ naquela tarde. “Deus tem tudo a ver com design”, pregou.

Paramentado com uma surrada calça jeans, tênis e a velha camisa preta de gola olímpica que lhe confere um ar de padre roqueiro, Jobs iniciou a liturgia com um pequenino mouse. A empresa finalmente atendeu às preces de seus seguidores e trocou os lamentáveis mouse e teclado do iMac. “Muita gente disse que nosso mouse era o pior da indústria. Agora apresentamos o melhor”, disse, exibindo o mouse com sensores ópticos. O bichinho não tem parte móvel, sumiram as bolinhas e as rodinhas que deslizam sobre a mesa para guiar a seta na tela. Agora o movimento da mão é captado pelos sensores ópticos. Os botões do mouse foram deslocados para as laterais e “aprendem” a quantidade de pressão preferida de seu dono e a incorporam automaticamente. Mouse e teclado estavam à venda no dia seguinte por US$ 59 cada, nos EUA.

O sermão de Jobs pegou fogo quando ele comparou as velocidades do G4 de 500 MHz – chip que equipa o cérebro dos iMacs – a um PC com chip Pentium de 1 gigahertz, da concorrente Intel. Os dois computadores foram acionados no mesmo instante para fazer um pôster de cinema (o cartaz do filme Inspector Gadget). O Mac G4 levou 100 segundos para cumprir a tarefa, enquanto o Pentium gastou 124 segundos. O golpe final veio quando Jobs repetiu a disputa, dessa vez usando dois processadores G4. O pôster ficou pronto em 64 segundos, enquanto o Pentium continuava labutando penosamente no telão, sob gargalhadas da platéia. Jobs aproveitou o momento para anunciar que todos os iMac – com exceção do modelo mais econômico – sairiam de fábrica com dois chips G4 trabalhando simultaneamente e de modo sincronizado.

Novas cores – Os primeiros computadores pessoais com dois processadores do mercado vêm com velocidade de 450 ou 500 MHz, e 7 gigabytes de disco rígido. Tudo isso pelo mesmo preço dos modelos unicéfalos. Jobs puxou outros coelhos de sua cartola. Anunciou uma nova linha de cores para os iMacs. Um a um, deslizaram para o palco máquinas de corpos translúcidos e coloridos como pirulitos: índigo, rubi, sage (uma tonalidade de verde), e snow (neve). O modelo mais barato (só na cor índigo) chegará ao mercado em setembro por meros US$ 800 – US$ 200 a menos do que os modelos antigos. Os outros sistemas já estão no mercado a preços que vão de US$ 1 mil a US$ 1,5 mil. No Brasil, a maior parte dos modelos estará à venda no final de agosto e o preço dos equipamentos em real é, em média, uma vez e meia mais alto do que nos EUA.

No meio da apresentação, Jobs chamou ao palco Kevin Browne, o gerente de desenvolvimento de produtos para Macintosh da Microsoft. O gesto serviu a dois propósitos. O primeiro foi o anúncio da versão mais recente do pacote com programas de escritório Office 2001, que será lançado em outubro. O executivo da Microsoft postou-se ao lado direito de Jobs para acabar com a eterna desconfiança da tribo da Apple, em guerra permanente com a Microsoft – que produziu o Windows, sistema operacional rival do idioma do Mac. “Nosso departamento de jogos está se associando à Microsoft para formar uma empresa de desenvolvimento de jogos para Mac. Não somos competidores, mas sim sócios”, disse o líder da empresa da maçã.

Cubo mágico – Jobs deixou a platéia extasiada com a apresentação do Cube, que tem um quarto do tamanho do Power Mac no formato torre. Sua caixa tem mais ou menos as dimensões de dois porta-guardanapos de lanchonete. O cubo vem em duas versões: 450 ou 500 MHz – com 64 ou 128 megabytes de memória, 20 ou 30 gigabytes de disco rígido. Os preços vão de US$ 1,8 mil a US$ 2,3 mil. No Brasil, o mais caro sairá em torno de R$ 4,5 mil e chegam às lojas em agosto, mas já se pode encomendá-los no site da Apple.

Branco e suspenso por suportes de plástico, o Cubo parece flutuar. A gaveta para CDs salta como uma lâmina do topo da máquina. Virada de cabeça para baixo, a caixinha revela um botão que permite soltar o interior da máquina, expondo todo o cérebro do bichinho. Os dois alto-falantes – brancos e com frente de plástico cristal – têm as dimensões de meia laranja do tipo baia. A multidão de adoradores da Apple cercou o Cubo em festa. Eles pareciam os macacos do filme 2001, uma odisséia no espaço, em contato pela primeira vez com o monólito místico da sabedoria.