O estudante de Direito gaúcho Mauro Aspis, 20 anos, não é nenhum nerd apaixonado por computadores. É, isso sim, aficionado por música – rock’n’roll e pop, para ser mais exato. Gosta tanto que carrega três mil canções – o equivalente a cerca de 200 CDs – no porta-malas de seu Gol 1997. O caixote com a discoteca é pouco maior do que um dicionário Aurélio grande. O estudante escolhe qual música ouvir por meio de um controle remoto e um display instalado no painel do carro, no lugar do antigo toca-fitas. Aposentou o rádio.

Isso só foi possível graças ao MP3, um formato que comprime arquivos de áudio a um décimo do tamanho que ocupariam em um CD comum, sem perda de qualidade, facilitando a transmissão das ondas sonoras pela Internet. Ao possibilitar a troca gratuita de arquivos de som, o MP3 provocou alvoroço na indústria fonográfica. Principalmente agora que os fabricantes de eletrônicos aderiram em massa ao formato. Hoje também se pode ouvir música em câmeras fotográficas, telefones celulares e relógios inspirados no detetive Dick Tracy.

Além da gratuidade, o que atrai os usuários é a facilidade de baixar canções pela Internet. Basta selecionar a trilha em sites como www.mp3.com, e tocá-la em um dos vários programas disponíveis na rede, entre eles Windows Media Player e RealPlayer. Programas gratuitos como o Napster (www.napster.com) também ajudaram a difundir o MP3 porque facilitam a troca de músicas entre os internautas. Se você quiser uma canção, digamos, de Frank Sinatra ou do grupo Mamonas Assassinas, basta digitar o autor ou a banda e em poucos segundos surgirá na tela do PC uma enorme lista de músicas. Todas prontas para ser baixadas da rede em poucos minutos. A onda se alastrou pelo mundo e hoje o Napster diz ter 20 milhões de usuários, todos trocando arquivos musicais sem pagar um tostão em direitos autoriais a gravadores e autores.

Para ouvir MP3 fora do PC não é necessário fazer como o gaúcho Mauro, que inventou seu próprio tocador de música e procura quem o produza em escala industrial. Depois de baixar a música pela Internet, é só transferir as canções do PC para outros aparelhos eletrônicos. A Casio, por exemplo, lançou no Exterior o primeiro relógio de pulso com MP3. O usuário só precisa conectar um fone de ouvido ao aparelho para ouvir até 33 minutos de música, transferidas do PC para o relógio por meio de um cabo especial. Os suecos fazem o mesmo no celular graças a um dispositivo de US$ 50 lançado pela Ericsson. Plugado ao telefone, ele pára de tocar quando o aparelho recebe uma chamada telefônica. Não é necessário nem tirar o fone do ouvido, já que há um microfone preso ao fio para facilitar a conversa.

A Fujifilm anunciou para agosto o lançamento de sua câmera FinePix 40i, que permite armazenar 32 minutos de música MP3, além de gravar fotos e vídeos digitais. Até o final do ano a Polaroid promete lançar uma câmera que armazena e reproduz música em MP3, além de, é claro, tirar fotos.

Começam também a surgir dispositivos que permitem que o usuário ouça as músicas capturadas pela Internet em qualquer aposento de sua casa. O Digital Audio Receiver da Dell e o receiver da Diamond funcionam como um velho aparelho de som, com a diferença de estar conectados ao PC pela linha telefônica. Para aumentar o volume, é só ligar as caixas de som diretamente nos receivers com MP3, que já possuem amplificadores de som. Ambos os dispositivos mostram na tela de cristal líquido o nome da música, do autor e o tempo de execução.

Quem prefere equipamentos portáteis pode optar pelo Rome, aparelho em formato de fita cassete que armazena 74 minutos de música e toca arquivos MP3 quando inserido num toca-fitas normal. Há ainda o Nomad II, que custa R$ 1,3 mil e também sintoniza rádio FM. O aparelho pesa apenas 100 gramas, vem com controle remoto e capacidade para armazenar até uma hora de música. O fone de ouvido, de design anatômico, foi projetado para se encaixar na nuca. No portátil Rio, da Diamond, a brincadeira é trocar a capa do walkman, disponível em várias cores.

Enquanto a indústria de eletrônicos vislumbra lucros fabulosos com o MP3, as gravadoras temem prejuízos. Razões não faltam. O exército de fãs do MP3 e do Napster é cada vez maior. E o que é pior para a indústria: os internautas estão cada vez menos propensos a gastar em CDs, já que podem achar a mesma música de graça na Internet.