Nos últimos meses, as autoridades responsáveis pela balança comercial brasileira vieram a público ao menos em duas ocasiões para cumprir um ritual saudável: deixaram de lado o otimismo exagerado típico de quem está no governo e se curvaram à realidade. Nos dois casos, reduziram a estimativa de superávit do País no comércio com o resto do mundo. As exportações não iriam mais superar as importações em US$ 5 bilhões, como fora prometido ao Fundo Monetário Internacional no final de 1999, mas em US$ 4,4 bilhões, disse o governo em março. No início de julho, foi hora de reconhecer que o saldo ao longo deste ano seria bem menor, de no máximo US$ 2,8 bilhões. O fato concreto, entretanto, é que na primeira metade do ano, entre os meses de janeiro e junho, o saldo foi positivo em apenas US$ 856 milhões. E o mais provável é que até dezembro chegue, na melhor das hipóteses, a US$ 2 bilhões.
O significado desse saldo pode ser avaliado levando-se em conta um outro número, aquele que representa a quantidade de dólares que o País precisará enviar ao Exterior ao longo deste ano para pagar a sua dívida externa. Essa conta, até dezembro, deve superar os US$ 45 bilhões, entre juros e parcelas da dívida propriamente dita. Daí a importância das exportações e, especialmente, do saldo comercial: é a forma mais eficiente de o País conseguir os dólares necessários para pagar seus compromissos externos.

De olho nesse problema, o economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro José Carlos Miranda, especialista em economia industrial, passou os últimos meses analisando a pauta brasileira de exportações. A intenção era descobrir por que as empresas brasileiras estão exportando tão pouco e o que falta para elas passarem a exportar mais. Uma das fontes do estudo foi um questionário respondido pelos 33 maiores grupos nacionais. Somadas, as exportações dessas empresas representam 44% de tudo o que o Brasil vende no mercado internacional.

A primeira constatação do estudo diz respeito ao investimento feito ao longo da década de 90, tanto por empresas nacionais como por estrangeiras já instaladas ou que decidiram abrir uma filial aqui. A parte mais relevante desses investimentos foi feita a partir da estabilização dos preços, especialmente a partir de 1995. No caso das nacionais, elas aproveitaram o câmbio favorável a partir do Plano Real, que deixou os produtos importados mais baratos, para investimentos em equipamentos e modernização das suas plantas industriais. Preferiram, de modo geral, se desfazer de atividades que não estavam diretamente ligadas ao seu negócio principal. “Já os investimentos estrangeiros vieram para o País principalmente para comprar empresas brasileiras, tanto empresas privadas quanto as estatais privatizadas, e não para abrir novos negócios”, considera o economista. No ano de 1998, por exemplo, as fusões e aquisições realizadas pelos estrangeiros no Brasil representaram 86% de todo o dinheiro investido. Os setores de energia elétrica, telecomunicações, financeiro, metalúrgico e de siderurgia foram alguns dos preferidos. “O resultado é que esses investimentos não conseguiram alterar substancialmente o leque de produtos exportados, comparando o que o Brasil vendia ao Exterior nos anos 80 e no final dos anos 90”, diz Miranda.


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