Algo soa familiar em O sol de cada manhã (The weather man, Estados Unidos, 2005), em cartaz nacional na sexta-feira 20. David Spritz (Nicolas Cage) é o “homem do tempo” de um telejornal de Chicago e recebe milhões para fazer aparições simpáticas falando sobre o clima. Seu casamento está em crise e a relação com os filhos é glacial. Por um bom tempo, empurrou com a barriga a vidinha sem grandes realizações até se dar conta da mediocridade de sua existência. O estopim dessa inquietação é a descoberta de que o pai, Robert (Michael Caine), um escritor brilhante que involuntariamente o faz se sentir um perdedor, sofre de uma doença terminal.

A corrida contra o tempo para dar algum orgulho para o pai, se aproximar dos filhos e convencer a mulher a lhe dar uma nova chance gera reações extremas. A interpretação de Nicolas Cage faz lembrar o roteirista atormentado que viveu em Adaptação, o que não chega a ser um problema. A angústia existencial de David revela-se em pensamentos e comentários saborosamente cruéis. E é aí que fica impossível não lembrar de Beleza americana. Mas, diferentemente do filme ganhador do Oscar, que caminha rumo à mudança – ainda que culmine em uma tragédia –, O sol de cada manhã prega um conformismo que incomoda. Sentimento nada recomendável em tempos de Bush.