Foi um projeto que causou espanto no mercado. "Vocês estão loucos! Abrir uma fábrica de computadores na Bahia?!", era a reação mais frequente que os executivos da Semp Toshiba ouviam de empresários do setor de informática no final de 1997. Claro que o comentário não vinha de baianos, interessados no investimento de R$ 50 milhões. Mas até mesmo os mais céticos executivos da empresa desconfiavam que uma unidade no Estado da Bahia não poderia fazer sucesso. Estavam todos errados. O projeto foi finalmente autorizado pela cúpula da companhia e em apenas um ano a Semp Toshiba transformou-se em líder do mercado de notebooks do Brasil, superando rivais de peso como a IBM e a Compaq. Nada mal para quem detinha um tímido quarto lugar em 1997. É cedo para dizer que a vantagem esteja consolidada, mas a desvalorização do real está a favor. A Semp Toshiba é a única grande empresa com uma unidade de notebooks aqui, onde monta as peças que vêm do Exterior. Leva vantagem sobre a concorrência, que importa os equipamentos completos.

Quase todas as grandes empresas mundiais de informática atuam no incipiente mercado brasileiro de notebooks. Mas poucas estão ligando para a tendência de crescimento do mercado brasileiro. Fala-se em aumento de até 40% neste ano. Alguns importantes fabricantes chegaram a montar notebooks no País, mas abandonaram suas linhas de produção locais e optaram pela importação de produtos acabados. A Compaq, por exemplo, que criou sua linha de montagem em Jaguariúna, no interior paulista, em 1997, decidiu suspendê-la em meados do ano passado. A IBM tomou a mesma medida em relação à filial de Sumaré, também em São Paulo. Tudo isso fez com que a Toshiba assumisse a dianteira com a sua nova unidade, localizada nos arrabaldes de Salvador. A distância entre a Semp Toshiba e as demais empresas, desprovidas de fábrica aqui, tende agora a se alargar mais com o dólar mais caro. "Quem ficou de fora terá dificuldades de voltar", diz Pedro Saenger, gerente comercial e de marketing da empresa de informática do grupo. Apesar de 95% dos componentes dos notebooks da Toshiba serem importados, a vantagem está na carga de impostos. Com a tarifa de importação e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) mais baixos, um equipamento montado no Brasil sai cerca de 20% mais barato. Os preços variam de R$ 3,5 mil a R$ 5,5 mil, dependendo do equipamento.

O potencial de crescimento desse segmento da informática é enorme. Basta dizer que apenas 5% do total de 1,5 milhão de computadores pessoais vendidos no Brasil no ano passado eram portáteis, enquanto esse volume nos Estados Unidos é cinco vezes maior. "A profissionalização das empresas obrigará seus empregados a usarem notebooks. Não faz sentido um corretor de seguros, no caso de um sinistro, abrir uma ficha do cliente em papel", diz Saenger. Nos seus negócios, ele usa um modelo Portégé 3010CT, fabricado pela japonesa Toshiba, a parceira tecnológica da Semp. O notebook ganhou em novembro o prêmio de melhor computador da Comdex 1998, em Las Vegas, a maior feira de informática do mundo. É um dos produtos mais procurados pelos recursos que oferece, além de pesar pouco mais de um quilo. Mas não há planos de fabricá-lo no País.

Atraída pelo programa de incentivos fiscais da Bahia, que prevê a isenção do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por oito anos, a planta da Bahia já se tornou a unidade mais produtiva do grupo. Nos nove meses de funcionamento do ano passado, faturou cerca de R$ 40 milhões. A meta é dobrar a receita neste ano. Inicialmente com 15 funcionários, a fábrica já funciona com 100 e deve abrir mais 50 vagas até junho. Esse desempenho ajudou o conglomerado a conseguir uma receita de R$ 88,2 milhões em 1998, um resultado 20% maior que o de 1997. O lucro passou de R$ 1 milhão para R$ 3,2 milhões. Além de notebooks, a unidade produz também computadores de mesa, aparelhos de DVD e telefones sem fio. Ela faz parte de uma joint venture entre o grupo Toshiba, do Japão, o empresário Afonso Hennel e a Lince Computadores. O grupo Toshiba é inclusive líder mundial na produção de notebooks e detém um quarto do mercado nos Estados Unidos. Além dos brasileiros, somente os próprios japoneses, os alemães e os americanos montam esse tipo de computador com a marca. O próximo passo da Semp Toshiba é montar também copiadoras em Salvador e encarar de frente concorrentes de peso do ramo, como a Xerox. Abençoados por todos os santos, os japoneses baianos da Semp Toshiba são melhores que os outros.