Os homens chegam de terno e gravata e retiram a Bíblia de suas pastas de executivos. As mulheres sacam seus exemplares de caríssimas bolsas Louis Vuitton. Muitos chegam em carros que custam uma fortuna. Os sinais exteriores de riqueza são evidentes. Outro ponto em comum é o amor a Deus. A igreja evangélica Sara Nossa Terra, um ramo mais descontraído dos neopentecostais, vem amealhando fiéis ricos e famosos no Rio. Para o bispo Francisco de Almeida, responsável pelos 19 templos da cidade, não há o que estranhar: “Eles têm dinheiro, mas não têm felicidade. A depressão também anda pelas ruas de BMW”, afirma.

Tudo começou em 1992, quando o físico Robson Rodovalho, especializado em ressonância eletromagnética nuclear, tornou-se líder de uma pequena comunidade evangélica em Brasília. Era o embrião da Sara Nossa Terra, que hoje, segundo o bispo, tem 70 mil fiéis e 250 igrejas espalhadas pelo País. Os fiéis abonados são sempre bem-vindos.“Para mudar o Brasil precisamos nos aproximar dos formadores de opinião,” justifica o bispo.

Nos cultos da Sara Nossa Terra ninguém grita para expulsar demônios. Há apenas cantos. Tudo muito light. “Nossa galera aceitou Deus porque ele é cabeludo, revolucionário e muito louco”, dispara Baby do Brasil. Para abraçar definitivamente o Evangelho, a cantora abriu a sua própria célula da Sara Nossa Terra e batizou-a de Ministério do Espírito Santo, Deus em Nome do Senhor Jesus Cristo. A devoção é tanta que Baby lança este mês seu primeiro CD gospel: o Exclusivo para Deus.

O visual exótico de Baby seria pouco adequado em outros cultos. Mas não no da Sara Nossa Terra. Desde que a ex-modelo Monique Evans converteu-se, há três anos e meio, a igreja adquiriu visibilidade na classe artística. “As pessoas têm preconceito contra os crentes. Acham que só tem gente pobre e feia”, alfineta Monique, que passa o dia orando e à noite vende produtos eróticos na tevê. “Nunca fui recriminada pelos pastores. Jesus não tem preconceito. Falo isso para meus amigos gays”, diz a apresentadora. Foi este discurso desprovido de recriminações dos pastores da Sara Nossa Terra – a maioria profissionais liberais atuantes – o grande chamariz para conquistar adeptos classe A. O executivo Wellington Vicente Bernardes, diretor da Combrasil, grande empresa de importação e exportação, também é pastor. Dirige um encontro apenas para homens. “São líderes natos que injetam força na igreja”, afirma o bispo Almeida. Ele frisa que a igreja cuida também da alma dos pobres. O bispo só não consegue explicar por que nos cultos só se sente o agradável cheiro de perfume francês.