Sem medo de ser populista, o governador do Rio, Anthony Garotinho, decidiu que qualquer carioca pode se deslumbrar, como ele mesmo se deslumbrou, com a beleza e o requinte do Palácio Laranjeiras. A residência oficial será aberta à visitação pública a partir de agosto. Garotinho, sua mãe, Mara, a primeira-dama, Rosinha, e mais seus oito filhos, sendo quatro adotados – Aparecida, 23, Altamir, 22, Clarissa, 16, Wladimir, 14, Amanda, 12, Anthony, 8, Wanderson, 7 e Clara, 4 –, estão morando no lugar desde janeiro para desgosto do presidente

Fernando Henrique Cardoso que antes, sempre que vinha ao Rio, ficava hospedado por lá. Afinal, ficaria caro para o governador, 38 anos e salário de R$ 9,6 mil, alugar uma residência em que coubesse toda a família. Optou por viver no casarão erguido entre 1909 e 1912 pelo milionário Eduardo Guinle.

Ambientes restritos
Os tempos mudaram tanto que o Palácio Laranjeiras foi dividido pelos novos moradores. O glamour do passado, com seus suntuosos salões, ficou restrito às solenidades. O acesso às crianças é limitado por imponentes portas espelhadas. Há o espaço para trabalho, com três salas, sendo que a utilizada para despachos dá para um dos mais nobres cômodos da casa: o banheiro de mármore de Carrara, com 31m2. Trata-se de uma peça belle époque, com destaque para a banheira esculpida. A família se acomoda na área residencial, em U, com sete quartos. Os quatro filhos homens ficam nos quartos do primeiro piso, e as quatro meninas, no segundo. Emoldurando a propriedade, um imenso jardim cuja maior atração é uma fonte art nouveau, com sereias e golfinhos de bronze. Obra do escultor Emile Guillaume, que as crianças pedem para que seja acionada quando têm visitas.

O mobiliário é predominantemente de estilo rococó e Luís XV. Na saleta de música, as paredes têm lambris folheados a ouro. O piano é uma jóia, com maquinário Steinway e móvel da casa Bettenfeld, de Paris, todo decorado com motivos florais. "O palácio é mais bonito à noite, com seus lustres de cristal acesos. É meio como Paris, que por isso foi batizada de cidade-luz", compara o governador. A rotina de Garotinho em cenário tão nobre nada tem de principesca. Ele acorda entre 6h e 7h e vai direto para a esteira. Depois, desce para a saleta de almoço, com paredes forradas em lambris de madeira, que formam painéis decorativos com motivos de flores e pavões. O café-da-manhã é frugal: um suco de frutas e três comprimidos de vitaminas. Despede-se da trupe familiar e sai para trabalhar.

Certo sábado, numa caminhada pelo Parque Guinle, ao lado da residência, antiga chácara da família de mesmo nome, o governador encontrou uma senhora que lhe confessou o sonho de conhecer o palácio por dentro. Garotinho a convidou para visitá-lo naquela mesma noite. "Ela veio com o filho e duas amigas. Ficaram encantados", lembra o governador, que imediatamente teve a idéia de abrir as portas à visitação pública. Técnicos da Empresa de Obras Públicas fizeram um levantamento do estado do imóvel e projetaram o restauro. O governador pediu apoio para a Peugeot e a Petrobras. Assim, além de entregar o palácio em condições ideais para a visitação, exibirá os estragos que encontrou, para que no futuro sua filharada não seja acusada de nada.

O palácio, projetado por Armando Carlos da Silva Telles, é rico em detalhes e obras de arte. No segundo piso, há uma cópia perfeita do Bureau du roi, obra da Casa Bettenfeld. Trata-se de uma escrivaninha cujo original hoje está no Palácio de Versalhes, na França. O palácio foi também cenário de episódios históricos, como a fatídica assinatura do AI-5, pelo presidente Costa e Silva, um dos antigos moradores. O primeiro presidente a ocupar o lugar foi Juscelino Kubitscheck. Em 1974, com a fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, o imóvel foi cedido ao Estado. Inspirada pela restauração, a primeira-dama, Rosinha, é a primeira a apontar rachaduras no teto dos salões, que poderiam passar despercebidas aos menos atentos. "Já me habituei às raridades da casa."