As reações à última edição de ISTOÉ foram estrepitosas. A publicação do furo de reportagem dos jornalistas Mino Pedrosa e Ricardo Miranda, com as fitas do juiz Nicolau dos Santos Neto, provocou um rombo na compacta muralha de omissão e corrupção erguida no País. E detonou os mais variados contra-ataques. Versões foram criadas às pressas na tentativa de diminuir o estrago e o País assistiu a uma exibição de malfadadas manobras para desviar a atenção do conteúdo das fitas. Na agitada semana que passou, a fita ora era uma “montagem”, ora era “falsa”. Sua publicação foi execrada, ou porque seu personagem principal, o juiz Nicolau, é um “bandido” foragido e portanto não se pode dar crédito às suas palavras ou porque tudo seria “obra do Luiz Estevão”. Para o presidente do Congresso, Antônio Carlos Magalhães, “as gravações provavelmente foram fraudadas” e o governo deveria ter a coragem de processar a revista. Para o governador do Ceará, Tasso Jereissati, tudo não passa de uma “verdadeira farsa”e “é profundamente lamentável que se divulgue esse tipo de coisa”.
Entre bravatas e lamúrias, um pouco de lucidez. Para o ex-presidente do Conselho Federal da OAB, o advogado Tales Castelo Branco, foi legítima a decisão de divulgar os trechos dos diálogos do juiz. Para ele, “não é preciso aguardar a comprovação dos fatos para só então divulgar as denúncias. Se a revista considera a fonte confiável, foi correta a decisão de publicar. Mesmo porque, até prova em contrário, a fita é válida”. Ele acredita que o fato de o juiz estar foragido não é suficiente para desqualificar as suas declarações. O jurista e professor de Direito da USP Dalmo Dallari acha que “o conteúdo das fitas não pode ser desprezado. Principalmente, porque o que foi divulgado não só é compatível, como agrava alguns fatos já conhecidos”. Na opinião do jurista, “a revista não partiu do zero e tinha bons argumentos para justificar a publicação”. O laudo do conceituado físico Eduardo Zocchi, perito em Áudio e Vídeo, com três anos de experiência no Instituto de Criminalística de São Paulo, publicado na pág. 36, comprova que as fitas divulgadas não foram montadas e que a voz gravada é a do juiz Nicolau dos Santos Neto. E põe um ponto final no assunto.

Hélio Campos Mello, Diretor de Redação