Pesando em média 130 quilos, com olhar desamparado e movimentos desengonçados, o Panda Gigante representa um legítimo desafio para os pesquisadores de Wolong, na província de Sichuan, no sudoeste da China. Para driblar os baixos níveis de reprodução entre os animais desta espécie, a equipe utilizou os mais curiosos recursos. No entanto, foi com a inseminação artificial que o recorde foi batido: 21 pandas nascidos em cativeiro. O país está em festa.

"Uma das maiores dificuldades está na alimentação. Durante a criação em cativeiro o animal fica temperamental, sendo muitas vezes difícil encontrar o par ideal para o acasalamento", explica a bióloga Kátia Cassaro, chefe do setor de mamíferos da Fundação Zoológico de São Paulo. Os mesmos obstáculos que ela pontua foram ressaltados por Na Chunfeng, diretor da Administração de Florestas, e por cientistas do Centro de Pesquisa de Pandas Gigantes de Wolong. Segundo os especialistas, esse preguiçoso urso chega a passar até 12 horas comendo bambu, e prefere tomar sol do que copular. Para contornar o problema e aumentar o número de pandas, de 1.1 mil em 2000, para 1.6 mil calculado em 2005, os chineses não pouparam esforços.

Primeiro foram utilizados satélites para monitorar o sexo dos ursos e aprofundar os conhecimentos sobre o seu comportamento. Foi observado que menos de 10% dos machos criados em cativeiro sentem estímulo para copular. Então, decidiram analisar aqueles que voltaram à vida selvagem, implantando microchips hipodérmicos contendo a origem e a idade dos animais. Depois, foi a vez da mais curiosa das experiências, a exibição de um vídeo educativo sexual para o panda-fêmea Hua Mei, criado em cativeiro e com poucos conhecimentos sobre atividades sexuais. Deu tão certo que o animal engravidou pouco tempo depois.

Por fim, os pesquisadores chineses investiram na inseminação artificial e superaram o desinteresse sexual da espécie com a ajuda do gigante Chuang Chuang, emprestado da Tailândia. Desta forma, a China viveu o “baby boom” de pandas-gigantes, batendo o recorde de 2003, quando sobreviveram apenas 15 exemplares nascidos em cativeiro. Embora as técnicas de fertilização artificial apresentem boa saída, o risco de extinção continuará alto enquanto houver a destruição do seu hábitat natural, agravado pelo desmatamento nas florestas
frias e úmidas da China, onde crescem as diversas espécies de bambu, seu principal alimento.