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Desde que se submeteu a um plano de carreira que o fez permanecer no Santos Futebol Clube, em 2010, Neymar deixou de ser apenas um jogador de futebol e se transformou numa mercadoria. Isso não é uma surpresa, pois desde a contratação de Ronaldo pelo Barcelona, em 1996, supercraques são tratados como produtos de consumo. A diferença é que isso nunca tinha acontecido antes no Brasil. Na verdade, ainda antes de aceitar o seu plano de carreira no Santos, o mercado do futebol brasileiro também foi influenciado por Ronaldo Fenômeno, apelido que ganhou na Internazionale de Milão, onde jogou de 1997 a 2002.

 Ao se transferir para o Corinthians, em 2009, e ganhar o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil naquele mesmo ano, Ronaldo mostrou que era possível não apenas a importação de craques antigos, mas também a permanência dos que surgem. O atacante Neymar surgiu em 2009, ao lado do meia Paulo Henrique Ganso. Em 2010, levando o Santos à mesma façanha que tinha sido conseguida por Ronaldo com o Corinthians, Neymar e Ganso comandaram o time campeão paulista e da Copa do Brasil. Houve um clamor pela convocação de ambos para a Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo na África do Sul, mas o técnico Dunga não sensibilizou-se com ela. Pelo que estavam jogando, mesmo sem experiência internacional, aquela poderia ter sido a Copa de Neymar e Ganso.

Não foi. E talvez 2014 não seja também. Para manter Neymar na Vila Belmiro, o Santos precisou desprezar o talento de Ganso, que, emburrado e desmotivado, nunca mais voltou a jogar o mesmo futebol depois de uma contusão. Mesmo assim, em 2011 eles ganharam a Copa Libertadores da América.

Ganso foi para o São Paulo, Neymar continua no Santos, onde disputa pela quinta vez consecutiva uma final de Campeonato Paulista. Se conseguir ser tetracampeão, alcançará uma glória que nem Pelé teve, no fantástico time dos anos 60. Neymar, entretanto, parece não estar mais feliz — sente-se sufocado por uma infinidade de compromissos comerciais, jogos pelo Santos, jogos pela Seleção Brasileira, aparição em programas de televisão e até em novelas, shows musicais, uma vez por semana no cabeleireiro e uma crescente desconfiança da torcida brasileira sobre sua capacidade de liderar o Brasil na Copa de 2014.

Para manter Neymar, o Santos destroçou um time que jogava muito bem, tinha um estilo encantador. Mas, assim como Pelé tinha Carlos Alberto, Zito, Coutinho e Edu para auxiliá-lo em campo, Neymar também precisaria ter mais jogadores de nível elevado para render seu melhor futebol. Acontece que o Santos não tem. Os fatos levaram à construção de um time comum, dependente de um supercraque que nem sempre funciona. Para se ter uma ideia, os dois jogadores que mais contribuíram com assistência para os 138 gols de Neymar no Santos ainda são Ganso (11) e Madson (6), dois nomes daquele time de 2010. E não é justo falar que Neymar está em decadência, pois sua média de gols é alta e com linha ascendente: fez 15 gols em 2009, 44 em 2010, 40 em 2011, 56 em 2012 e 17 em 2013. Desses, 62 foram na Vila Belmiro, 22 no Pacaembu e 9 no Morumbi — para citar seus maiores palcos paulistas.

Neymar tem 10 patrocinadores pessoais: Nike, Panasonic, Claro, Tenys Pé Baruel, Lupo, Guaraná Antarctica, Unilever, Volkswagen, Santander e Heliar. Ganha até de Lionel Messi, que tem nove. Neymar vende em seu site todo tipo de quinquilharia: canecas, agendas, travesseiros, cadernos e 10 diferentes jogos de futebol. Nesta terça 13 ele foi mais uma vez relacionado como atleta número 1 do mundo com maior apelo e carisma comercial, pelo segundo ano consecutivo, pela revista SportsPro, à frente de Messi e do golfista Rory McIlroy. “Ele é tudo que uma marca quer”, segundo o editor-chefe David Cushnan.

Em mais um momento decisivo da carreira, Neymar terá de decidir, nas próximas semanas, se aceita a proposta de jogar pelo Barcelona ou pelo Real Madrid a partir de agosto. Lá, terá de dividir as atenções com Messi no Barça ou com Cristiano Ronaldo no Madrid. Talvez tenha mesmo chegado a hora de Neymar partir. Faz parte da natureza humana querer desbravar novos mundos — se não fosse assim, o homem dito civilizado teria chegado no máximo ao desenvolvimento dos aborígenes da Austrália. Neymar pode melhorar ou piorar seu futebol jogando na Espanha. Nesse momento, é mais provável que melhore. Considerando a pressão psicológica que ele enfrenta atualmente no Brasil, uma transferência pode ser boa para a pátria de chuteiras.