O filme até tem algumas qualidades como a fotografia magnífica e atuação do elenco, mas faz jus ao título: é um estorvo. Ruy Guerra, que assina a direção e o roteiro, conseguiu ampliar ainda mais a desagradável sensação de angústia que contamina o leitor da obra homônima de Chico Buarque, lançada em 1991. Estorvo – em cartaz na sexta-feira 21 no Rio de Janeiro – incomoda pelo confronto com um personagem sem nome, sem sentimentos e sem caráter, cercado por seu próprio vazio existencial. Tanto o universo dos ricos quanto o dos corruptos vêm à tela com agudo senso crítico. O cubano Jorge Perugorría incorpora o protagonista com calculado despojamento. Sua irmã, vivida por Bianca Bynton, capta a frivolidade de uma mulher milionária e igualmente desfeita de sentimentos.

Assim como no livro, o filme manipula com habilidade o tempo real e o imaginário, sobretudo nas imagens distorcidas que saem da lente do talentoso diretor de fotografia, Marcelo Durst. Os closes, os planos e o ritmo da fita acentuam no espectador uma indescritível sensação de desconforto. Do início ao fim. Vale a pena assistir? Vale, para quem se despe da máxima de que “cinema é a melhor diversão”.