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"Esse é um pequeno passo para um homem, mas um gigantesco salto para a humanidade", disse o astronauta americano Neil Armstrong no dia 20 de julho de 1969, ao descer do ônibus espacial Apollo 11 e provar ao mundo, com poesia na alma e os pés no chão, que o espaço começava a ser conquistado: Armstrong pisou a Lua. Naquele momento, ele sabia que estava dividindo via satélite a sua glória com cerca de um bilhão de terráqueos, à época um terço da humanidade que viu emocionada pela televisão a sua conquista após quatro dias de viagem. Esse foi o ponto culminante da corrida espacial em que se empenhavam os EUA e a hoje extinta União Soviética, desde 1957, quando Moscou anunciou o lançamento do Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra. A partir de Armstrong, os americanos, com o projeto Apollo, realizaram seis missões rumo à Lua, colocando 12 astronautas em seu solo. No ritmo frenético em que a Nasa trabalhava, acreditava-se que em pouco tempo muitos cientistas já a estariam explorando. O programa travou, no entanto, em 1972: a Lua já não era um troféu da Guerra Fria entre o mundo capitalista e o comunista e também financeiramente já não interessava mais. Esqueceu-se da Lua. Na semana passada anunciou-se que ela volta agora a ser o objeto do desejo da corrida espacial. Em comemoração aos 50 anos da Nasa, Carl Walz, um dos diretores da área de missões de exploração da agência americana, anunciou a construção de instalações que permitam aos astronautas estadas de até seis meses na Lua. Segundo os especialistas, esse será o maior salto para a humanidade em meio século de exploração e abrirá definitivamente as portas para a colonização do nosso satélite.

TOBIAS SCHWARZ/REUTERS

Para a raça humana sobreviver ao tempo é preciso ir até onde ninguém jamais foi"
Stephen Hawking, astrofísico britânico

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O anúncio desse novo projeto dos EUA teve o apoio total de uma das mais brilhantes mentes dos tempos atuais, o astrofísico britânico Stephen Hawking: "O homem deve persistir na exploração do espaço com a mesma ambição com que se lançou à conquista de um novo mundo após a chegada de Cristóvão Colombo ao território americano em 1492." Hawking disse ainda que a busca pela sobrevivência fora da Terra poderá levar seres humanos a descobertas magníficas no campo da ciência e da medicina. Muito atenta ao discurso do gênio, a equipe da Nasa detalhou a construção das bases colonizadoras. "Necessitamos estabelecer períodos de presença humana de até seis meses, como fazemos atualmente na Estação Espacial Internacional (ISS)", disse Walz. "Vamos desenvolver sistemas de transporte, vamos viver na Lua, trabalhar na Lua, construir infra-estruturas e utilizar recursos da Lua." Para isso, as futuras bases espaciais serão construídas com o avançado material chamado aerogel, feito com gás carbônico e dono da incrível vantagem de ser tão leve como o ar. O setor de habitação funcionará com eletricidade gerada através de painel de luz solar e um sofisticado sistema de mobilidade permitirá que cientistas se desloquem de um ponto a outro. Os pesquisadores trabalharão nas infra- estruturas que serão montadas e, até 2010, estará pronta a nova frota de ônibus espaciais, chamada Ares. "Todo o material recolhido e as imagens obtidas nas últimas décadas ajudaram a dar sustentação ao novo projeto", diz Walz. "E caso não se confirmem os indícios de existência de gelo no subsolo lunar, ou seja, caso não possamos ter água, estudaremos métodos de superação desse obstáculo."

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Os EUA estão recebendo ajuda de pesquisadores da Agência Espacial Européia (ESA), que apresentou a tese de "agricultura sustentável em solo lunar". A proposta foi feita pelo cientista Bernard Froing. Ele sugere a instalação de estufas que protegeriam as sementes plantadas na Lua e possibilitariam observar como as condições ambientais agiriam no crescimento de vegetais. "Existe a possibilidade de que plantas se desenvolvam usando certos tipos de bactérias que extrairiam do solo os nutrientes para permitir a vida", diz Froing. "Uma planta é um miniecossistema e, assim, ela pode nos abrir caminhos de estudo." O que o leva a falar com tanta convicção é uma experiência realizada por uma equipe científica da Ucrânia que, recentemente, conseguiu fazer margaridas crescerem em um composto de anortosita, tipo de rocha terrestre parecida com as rochas encontradas no satélite. "Em dez anos será possível criar pequenos jardins, cuidados por robôs, para que os astronautas tenham o seu paraíso de flores", diz Froing. Sabe-se que uma das maiores dificuldades para a sobrevivência de plantas na Lua é a forte radiação que ela recebe, uma vez que não possui atmosfera. Mas há soluções que a ciência já vislumbra: uma delas é a utilização de bactérias que protegeriam as plantas dessas radiações. Outro problema que receberá atenção especial da Nasa é o lixo espacial. Atualmente existem cerca de duas toneladas de detritos criados pelo homem vagando em torno da Terra. Centenas de quilos ficam depositados temporariamente na Estação Espacial Internacional até que uma espaçonave vá retirá-los, trazendo- os de volta. Esse é o método de "coleta" mais eficiente, já que os objetos são destruídos ao entrarem em contato com a atmosfera. Para garantir a segurança, geralmente utiliza-se o oceano como ponto de queda desse lixo.

Muito mais do que obstáculos, a Lua pode oferecer um mar de mistérios aos seus futuros habitantes. Um deles provavelmente será a sua face oculta, que em 1959 teve suas primeiras imagens reveladas. Surpreendentemente, elas mostraram que esse lado escuro não possui "mares", como são chamadas as grandes planícies de lava que podem ser observadas no lado "claro", voltado para a Terra. O lado oculto é composto por um terreno acidentado e marcado por crateras e pouquíssimas planícies. Esses fatores, somados à temperatura média de 100 graus negativos, descartam por enquanto a sua exploração. A linha espacial Ares, que protagonizará a nova empreitada, já está pronta e recebe novos foguetes e equipamentos. Serão de dois tipos: o Ares I, equipado com cinco pequenos foguetes de combustível sólido e um motor de combustível líquido feito com oxigênio e hidrogênio (combustível que os cientistas produzirão na própria Lua), será capaz de levar 25 toneladas de carga até a órbita baixa da Terra. Já o Ares V é um carga-pesada, capaz de colocar em órbita nada menos do que 130 toneladas a cada viagem. Serão cinco motores de combustível líquido. Esse gigante mede 110 metros de altura. Apoiando a missão e todos os esforços da ciência para se superar, a mente inquieta de Stephen Hawking aponta o único provável caminho para todos nós: "Se a raça humana vai continuar por outro milhão de anos, teremos de ir aonde ninguém jamais foi."

 

RENOVAÇÃO A frota Discovery será substituída pela moderna
Ares, capaz de transportar 130 toneladas


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