ISTOÉ – Foi um erro não ir para o PPS?
Luiz Paulo – Se as ameaças de impugnação se concretizarem será a prova de que eu estava errado e Hartung certo. Não é inteligente o PSDB jogar pela janela esse patrimônio político.

ISTOÉ – Se perder o sr. sai ?
Luiz Paulo – Só expulso, impugnado ou sob intervenção. Se eu for proibido de trabalhar, não estou saindo, estou sendo expulso.

ISTOÉ – Quem é o seu candidato ao Planalto?
Luiz Paulo – Destaco Serra e Tasso Jereissatti. São os mais bem preparados. Gestão e política com qualidade são primos irmãos. Chegar ao poder com compra de votos e trambicagem dará um governo de baixa qualidade. Com favorecimentos não se governa para o povo.

ISTOÉ – Isso acontece com FHC?
Luiz Paulo – Se não se conseguiu avançar mais deve-se à qualidade da política da base governista.

ISTOÉ – Violência e desemprego são da alçada de um prefeito?
Luiz Paulo – A preocupação com o desenvolvimento, a integração dos serviços públicos e superação das desigualdades é de âmbito muito local. É preciso avançar na descentralização. Temos a lei de responsabilidade fiscal, mas não temos política de crédito. Costumo dizer que endividamento é igual a colesterol: tem o bom e o ruim.

 

No dia 6 de julho de 1988, um manifesto publicado no Diário Oficial da União anunciava: “Longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas, nasce um novo partido.” Era a criação do PSDB. Com apenas quatro anos, a legenda que trazia como símbolo um tucano sustentou no bico um plano de estabilização, que levou ao Palácio do Planalto um dos seus principais quadros, o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. Hoje, Fernando Henrique avança em seu segundo mandato e o partido já tem 12 anos. Os compromissos e a forma de execução do ideário social-democrata – combater as desigualdades sociais, as oligarquias, respeitar a democracia interna e promover um crescimento econômico rápido para erradicação da miséria, entre outros – vêm provocando uma divisão e uma acirrada disputa pelo comando do partido. Os chamados autênticos, corrente da qual fazem parte os presidenciáveis José Serra, ministro da Saúde, e o governador do Ceará, Tasso Jereissati, enfrentam a resistência daqueles que se agregaram ao partido, com pouca ou nenhuma afinidade com o programa que privilegia a gestão moderna, responsável, não clientelista e de resultados.

A luta interna, com os olhos voltados para 2002, começa a fazer vítimas dentro do partido e atingir aliados de primeira linha dessa corrente. O PSDB reedita o processo que o originou: expurgar aqueles que se identificam com a política tradicional. O prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas, por exemplo, pode ter sua chapa à reeleição impugnada a pedido do diretório regional de seu próprio partido, o PSDB, comandado pelo governador do Espírito Santo, o também tucano José Ignácio Ferreira. A Executiva estadual, presidida pela ex-vice de Luiz Paulo e ex-senadora Luzia Toledo, decidiu no dia 19 de junho que qualquer coligação com a oposição (PT-PPS e PDT) teria de ser aprovada pela regional. Isso ocorreu seis dias antes da convenção homologar a chapa do prefeito, com vice do PPS e amparada por 13 partidos, entre eles o PDT, o PPS, o PL.

 

A diretriz foi baixada após o PSDB de 20 municípios do Estado ter realizado suas convenções e coligações. Desses 20, 14 tiveram aprovadas as coligações com a oposição. “Essa resolução não tem valor jurídico. Não nos avisaram nada, não discutiram o critério. Eles querem indicar o vice. Escolhi César Colnago (PPS) por ser meu braço direito e unir a frente em torno de seu nome”, disse Luiz Paulo. O nome de Colnago foi amplamente negociado no diretório municipal e com os partidos coligados. “O que estão fazendo é golpe. O PPS é aliado histórico de Vitória e, assim como o PDT, faz parte do nosso governo.” Luzia Toledo rebate: “O que a Executiva estadual não aceita é a forma como a chapa foi composta. Não é a participação do PPS.”

Para Luiz Paulo, a decisão de levar aos tribunais uma decisão tirada e aprovada em convenção é resultado de uma “política atrasada que não serve aos interesses da população” e, principalmente, uma reação à ala tucana que está voltada a gestões de resultados. Vitória é a principal vitrine do PSDB no que se refere à administração municipal, que tem a reeleição do prefeito praticamente assegurada. Luiz Paulo conta com mais de 70% de aprovação e 51% das intenções de voto. Mas isso não é suficiente para apaziguar o partido. O imbróglio envolveu a Executiva nacional tucana. Na terça-feira 11, o secretário-geral do PSDB, deputado Márcio Fortes (RJ), se reuniu com o prefeito e a regional do partido. Saiu da mesma forma que entrou, sem um proposta de consenso. A possibilidade de o vice do PPS se aninhar aos tucanos e assinar a ficha do PSDB após as eleições não convenceu. O caso deve acabar no TRE ou, na pior das hipóteses, no TSE, empurrando, com isso, o prefeito para fora do partido. Luiz Paulo não abre mão do vice e recorrerá a todas as instâncias. “Quando batem em mim, estão batendo e tentando excluir do partido uma ala que quer a modernidade, o desenvolvimento de políticas públicas, não-assistencialistas”, explica Luiz Paulo. A estrutura do problema da exclusão – defende o prefeito – deve ser atacada com ações eficazes a fim de dar cidadania a famílias que vivem à margem da sociedade.

A polêmica em Vitória chegou ao Planalto. Quando as negociações de Luiz Paulo com a frente já davam como certa a escolha do vice do PPS, a luz vermelha acendeu no PSDB. O governador José Ignácio foi a FHC e ameaçou deixar o partido. Seu périplo pelo Senado e ministérios dividiu a Executiva Nacional. O ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga e o senador Sérgio Machado estariam acolhendo a tese do governador, a qual Vitória estaria mais para o PPS de Ciro Gomes e do senador capixaba e ex-prefeito da cidade Paulo Hartung, candidatíssimo ao governo do Espírito Santo, do que para os nomes do PSDB. Há um ano, quando Hartung foi para o PPS, Luiz Paulo, prevendo problemas com o governador José Ignácio e tradicionais políticos da região como os Camata (Gerson e Rita) e os Álvares (Élcio) esteve com FHC. O presidente pediu para que ele não seguisse os passos do senador. Garantiu que sua reeleição estaria assegurada e chegou a chamar o presidente do partido Teotônio Villela para tratar pessoalmente do assunto. Luiz Paulo manteve-se no PSDB.

O prefeito nega a tese do governador, mas não esconde sua antiga afinidade e amizade com o senador e Ciro Gomes. O prefeito defende dois nomes para a sucessão de FHC: José Serra ou o Tasso Jereissati. Ele adverte que após as eleições municipais, o PSDB deveria divulgar e seguir um cronograma visando a sucessão de FHC. “Ela já está nas ruas e não podemos cruzar os braços. O Serra, com quem me identifico muito, é da corrente desenvolvimentista, talvez seja o mais bem preparado para ser presidente.” Quanto a Tasso, Luiz Paulo ressalta que a moderna política pública implantada por ele no Estado aposentou as oligarquias regionais e tirou o Ceará da condição de Estado periférico. “Esse modelo é muito animador para o Espírito Santo. Deixar de ser periférico se rompe com o tradicional”, provoca.