Ele trocou o avental branco pelo terno e gravata e diz que quer fazer da política uma extensão de seu trabalho de 26 anos em salas de cirurgia. Deputado federal em seu primeiro mandato, com o aval de 50 mil eleitores, e hoje favorito na corrida pela Prefeitura de Campinas, com 28% das intenções de voto (segundo a última pesquisa Datafolha), o cirurgião pediatra Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT), faz parte da bancada que quer tirar da UTI a imagem do político brasileiro. “O político, como o médico, deveria usar seu trabalho para melhorar a vida das pessoas. Infelizmente, sua credibilidade está em baixa e precisa ser salva”, diz Dr. Hélio, filho de um marinheiro e de uma operária desempregada que chegou a ser desaconselhado por familiares e até pacientes a entrar na política. Tinham medo de perder um ótimo cirurgião sem ganhar um bom político. O médico não virou um monstro, mas um político compulsivo pelo trabalho.
Um dos 60 deputados-médicos, membro da Comissão de Ciência e Tecnologia e da Frente Parlamentar pela Saúde, Dr. Hélio já apresentou mais de 50 projetos sobre temas variados como a implantação pelo SUS (Sistema Único de Saúde) do atendimento domiciliar, a punição para autores de pornografia infantil na Internet e o domínio público das descobertas na novíssima área do genoma humano, o estudo do sequenciamento do código genético. “Chega uma hora que ser médico não basta. A sala de cirurgia fica pequena. É preciso lutar em outra área”, diz. “O médico pode tratar uma criança, mas não consegue, sozinho, reduzir a taxa de mortalidade infantil. Aí entra o político, responsável por indicar as prioridades que vão mudar a realidade social.” Até o início da campanha eleitoral, ele continuava dando atendimento pediátrico no ambulatório da Faculdade de Medicina da PUC em Campinas e também no consultório que divide com a mulher. Foram mais de 15 mil cirurgias em crianças em 26 anos. No ritmo estressante das votações no Congresso, Dr. Hélio já atendeu alguns colegas, como o deputado paulista e presidente do PT José Dirceu, socorrido dentro do plenário durante uma crise de labirintite. “Nessa hora, não tem diferença partidária”, conta.

Nascido em Corumbá (MS) e criado em Campinas, tendo se formado pela Unicamp, com passagem pela Cidade do México e por Chicago, onde se especializou em cirurgia pediátrica, Dr. Hélio deu os primeiros passos na política em 1988, quando ajudou a elaborar programas para o PMDB. Fundou em Campinas o Crami, primeiro centro de atendimento à violência doméstica contra criança no Brasil, e foi secretário de Saúde dos municípios paulistas de Hortolândia e Americana.