Não é só Euan, 16 anos, filho do primeiro-ministro inglês Tony Blair, que gosta de exagerar na bebida. Há duas semanas, ele foi detido pela polícia, caído e vomitando na calçada da Leicester Square, ponto movimentado de Londres. No Brasil, a moçada também anda bebendo como nunca e cada vez mais cedo. De 15.503 estudantes de primeiro e segundo graus entrevistados nas capitais do País pelo Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas (Cebrid), 53,2% consomem álcool e 6% são dependentes. Depois de beber, 11% envolvem-se em brigas e 19,5% faltam à escola. Também é comum a bebida ser comprada livremente em bares e casas noturnas.
Bar Pirajá, São Paulo, segunda-feira, 21h. As primas A. e L., 17 anos, tomam uma cerveja com os amigos. O primeiro gole de A. foi aos 13. “Todo mundo na festa bebia, ia fazer o quê?”, pergunta. Para ficar “alegre”, A. entorna, no mínimo, seis garrafas de cerveja do tipo long neck. L. conta que há três anos só bebia água nas reuniões com os colegas. Depois de tomar vários copos de Cuba-Libre de uma vez, acostumou. As duas já perderam a conta dos porres. “Se estava bêbada, como posso lembrar?”, brinca L. Por que gostam de beber? “Sei lá, o álcool tira o perigo das coisas”, resumem.

A adolescência é um período difícil para os jovens. Ficam ansiosos, inseguros e é comum nessa fase a cultura do excesso. “Além disso, hoje tudo é precoce, a experimentação sexual, a socialização, a independência. O jovem entra em contato com o álcool mais cedo também”, explica o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Escola Paulista de Medicina. Não foi à toa que um embaraçado Tony Blair rendeu-se à imprensa. “Ser primeiro-ministro pode ser um trabalho duro, mas ser pai pode ser mais difícil”, disse Blair. Dias antes do vexame do filho, ele havia proposto uma lei para punir com multa quem se excede na bebida. Segundo a mestre em educação Tania Zagury, há uma tendência de se aprovar o hábito de beber na sociedade e isso deixa muitos pais confusos. “Eles podem achar que é caretice dizer para os filhos não beberem, se também eles bebem. Os pais já não sabem se podem proibir alguma coisa”, afirma. Um estudo feito pela escritora com 943 adolescentes no Rio de Janeiro revelou que 57,7% começaram a beber com 14 anos ou menos e 28,3% deles costumavam esconder da família. “Os pais devem ser mais enérgicos, interferir na vida dos filhos e informá-los”, aconselha.

A última campanha do Ministério da Saúde para inibir o consumo de álcool foi feita em 1996. “Mas frases-chavão, como ‘atenção, o excesso de álcool faz mal à saúde’, nunca funcionaram”, avalia o vice-presidente do Hospital Albert Einstein, Cláudio Luís Lottemberg. “É preciso educar os jovens. Álcool em quantidades moderadas, não faz mal. A questão é mensurar o que é abuso”, diz. O hospital lança em agosto um site interativo na Internet descrevendo os caminhos que o álcool percorre no organismo. O internauta vai poder experimentar visualmente todos os efeitos da bebedeira. “O principal não é saber que você terá cirrose hepática (mau funcionamento do fígado) quando bebe demais e sim que perderá o controle sobre si mesmo”, diz Lottemberg.