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No Rio de Janeiro, não é raro o fato de milícias armadas atuarem nas favelas. O que se sabe agora, a partir de um relatório elaborado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), é que milícias têm atuado também contra índios que ocupam uma área nobre em Niterói, no paradisíaco bairro de Camboinhas. O relatório da Comissão de Direitos Humanos da OAB no Rio, obtido por ISTOÉ, denuncia que grupos armados estão ameaçando uma tribo de 50 índios guaranis mbyá, com o objetivo de expulsá-los de uma área de quatro mil metros recebida em doação. É um terreno que nos últimos anos teve grande valorização e o mercado imobiliário considera toda a região um filão comercial. O relator do documento, o advogado Arão da Providência, registra que nos dias 28 de junho, às 22h, e 4 de julho, às 18h, “…milicianos, ou seja, civis armados, ameaçaram matar todos que ali se encontravam, caso não deixassem o local.” Ainda em julho, um incêndio aparentemente criminoso destruiu as sete ocas do assentamento, ferindo gravemente um índio.
O terreno onde os guarani mbyá estão alojados pertencia ao windsurfista George Mollin Rebelo, que doou a propriedade aos indígenas, conforme os registros imobiliários de patrimônio números 5865.0101479-88 e 5865.010.1488-79. Os documentos, porém, parecem não valer: o cacique da tribo, Darcy Nunes de Oliveira, ou Tupã, diz que “estão” fazendo o argumento da força prevalecer sobre o escrito. Sem defesas, a comunidade indígena sobrevive à pressão e tenta continuar a convivência harmônica que sempre teve com a sociedade.
Os moradores do bairro já se acostumaram com a presença deles. Em uma padaria, a balconista Dalva Siqueira se diverte lembrando casos. “Um deles chegou aqui e disse: ‘Índio quer café na cuia’. Eu respondi: ‘Aqui não ter cuia, ter xícara’”, conta ela. O cacique Tupã, por sua vez, se preocupa com o futuro. “Quero fazer tenda para aula das crianças.” E afirma que não sairão do local. “Destruíram sete ocas. Vamos construir 12. O que destruir, a gente constrói.”

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