No município de Cláudio, no centro-oeste mineiro, o nome da pessoa vale pouco. De seus 25 mil habitantes, 60% são conhecidos apenas pelos apelidos. A dificuldade de encontrar um número de telefone pelo nome de batismo era tanta que há 21 anos foi lançado um catálogo telefônico alternativo com aproximadamente 100 denominações. Como os moradores não abandonaram o hábito, o secretário de Cultura Zé Costela – ou Noemi Vieira Moura – foi obrigado a lançar uma segunda edição da lista, engrossada com mais de dois mil assinantes. Os apelidos foram relacionados por ordem alfabética e contêm o endereço e o nome verdadeiro entre parênteses. A lista de apelidos facilitou principalmente a vida de carteiros como Pato (Mário Francisco da Silva). Para evitar que as cartas chegassem com atraso a seus destinatários, Pato já havia sugerido que elas fossem postadas com apelido. “Agora posso localizar os desconhecidos pelo catálogo”, comemora.

A mania também levou as lojas da cidade a fazer o cadastro de vendas a crédito por apelido. “Ninguém dá referências sobre uma pessoa pelo nome de batismo. É inócuo”, explica o presidente da Associação Comercial de Cláudio, Jadir Geraldo Da Silva – conhecido como Moleque.

Com exceção dos funcionários do poder judiciário – há pouco tempo em atividade no município –, nenhuma autoridade escapa da criatividade dos claudienses. Os quatros últimos prefeitos, por exemplo, incorporaram os apelidos inventados pelos eleitores de tal forma que eles foram impressos até na cédula eleitoral. O atual prefeito é o Gereré (Geraldo Ferreira Vaz), cujo filho, de 8 anos, foi rebatizado como Thiú. Gereré foi antecedido por Tampinha, Nanico, e Neves Tasquinha – cunhado do ex-presidente Tancredo Neves.
Na Câmara Municipal, somente um dos 11 vereadores conseguiu manter o nome que consta na carteira de identidade. O resto é tudo “alcunhado”, como dizem os moradores. Afáveis e receptivos com os turistas, os habitantes de Cláudio são boa companhia para diversões variadas. Quem quiser jogar uma partida de bilhar, pode convocar como parceiros o Sinuca, o Caçapa, o Taco, o Bola e o Giz. Se houver muitos jogadores na lista de espera, é possível marcar horário com o Dez e Meia, o Cinco e Meio e o Dois e Meio. Quem quiser companhia para uma refeição frugal, pode requisitar a companhia do Goiaba, do Banana e do Melão. Para saborear um churrasco, os compadres Boi e Bezerro são presença obrigatória.

Autor de alguns apelidos da cidade, o industrial Castejon (Eleomar Ferreira Silva) explica que eles são bolados nas festas e partidas de futebol. “Quando chega alguém novo na cidade e não sabemos o nome, arrumamos logo alguma designação que ajude a identificá-lo. Se o “alcunhado” ficar bravo, aí é que o apelido pega de vez, diz Castejon. Há grupos que se reúnem com o único pretexto de inventar apelidos para os outros. A inspiração pode ser a semelhança com artistas, músicos, bichos e frutas. A Variant verde, ano 74, que Tancredo Neves dirigia para visitar a fazenda da família da esposa, Risoleta, também ganhou apelido: Marionete.


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