A expressão modo de vida sustentável nem sempre é sinônimo de chatices do tipo casas sem luz elétrica construídas no meio do mato. Fogão movido a energia solar e mesas e cadeiras de material reciclado são algumas das novidades ecológicas produzidas em grande escala no País. Diferentemente do que aconteceu após a Rio 92, quando muito se falava em reciclagem, mas era quase impossível encontrar produtos ecologicamente corretos nas lojas, muitas indústrias têm se especializado em transformar refugos das cidades em objetos úteis e agradáveis aos olhos. A partir da sexta-feira 21, numa exposição no shopping SP Market, em São Paulo, os paulistanos verão como é uma casa em que nada agride a natureza.

Organizada pelo Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica, a mostra apresenta cerca de 100 peças. Num ambiente revestido de juta, haverá de alimentos e produtos de limpeza orgânicos a jaquetas e pastas de couro vegetal, produzidas a partir de látex extraído por tribos do Acre. Materiais considerados verdadeiras pragas pelos ecologistas, como as embalagens de leite longa-vida, aparecem transformados em peças de mobília como uma mesa de escritório ou uma lixeira. Detalhes em madeira só se for com espécies renováveis como a Garapeira, da Amazônia. Um monte de plástico fundido, que levaria anos para ser absorvido pela natureza, vira uma cadeira estilo chaise-long para a sala de estar.

Entre as peças de vestuário, chama atenção a criatividade com que alguns estilistas trataram refugos da vida moderna. Materiais rústicos como lona de caminhão viram calças do tipo cargo, espécie de curinga da moda de rua. Uma velha câmara de pneu, depois de lavada e recortada, dá origem a um moderno conjunto de miniblusa e saia. Para combinar, uma indústria do Paraná propõe uma engraçada bolsa de crochê e restos de alto-falante. O delicado vidro, levado de volta ao forno, transforma-se em pastilhas coloridas, e estas num conjunto de saia e blusa. Já as indesejáveis garrafas plásticas de refrigerante, amaldiçoadas pelos ecologistas, servem de matéria-prima para a produção de tecidos. Na reciclagem, o plástico colorido é transformado numa espécie de lã; ao trabalhá-la num tear, mãos hábeis criam belíssimos xales.

A casa do futuro sustentável também é repleta de eletrodomésticos futuristas e ainda um tanto malucos. O maior destaque é uma bicicleta solar inventada pela ONG Aonde Vamos?, de Alagoas. A peça vem com um motor movido a energia solar, mesmo sistema que aciona um fogão mexicano em exposição. Há ainda filtros anticloro e um sistema capaz de monitorar e reduzir o consumo de água nas residências. “A idéia é mostrar o que o morador de uma grande cidade como São Paulo pode fazer para preservar a natureza sem abrir mão da beleza, do conforto e da tecnologia da vida moderna”, afirma a curadora da exposição, Cristiana Kravol. Alguns itens da mostra estarão à venda nas lojas do shopping SP Market até o fim da exposição, em 6 de agosto.