A revista britânica Nature é uma espécie de avalista da ciência. Os trabalhos por ela publicados têm garantia de aceitação e são olhados com muito respeito pela comunidade científica internacional. Não é fácil publicar na Nature. Segundo a revista, semanalmente são submetidos ao seu crivo cerca de 170 trabalhos científicos do mundo todo, dos quais só 10% são aprovados. Evidentemente, ter o trabalho escolhido para capa da revista é uma proeza ainda maior. E esse feito foi alcançado por uma equipe de pesquisadores brasileiros, que conseguiu lugar de destaque na edição do último dia 13, com um artigo relatando os resultados de um projeto desenvolvido no Brasil.

O sucesso do trabalho, iniciado em outubro de 1997, que envolveu quase 200 pesquisadores de três universidades e foi viabilizado graças à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), coloca o Brasil no seleto grupo de países que conseguiram sequenciar o genoma. Até agora, no mundo todo, são somente 24 os mapeamentos completos. E os brasileiros lograram fazer o sequenciamento do primeiro agente patogênico vivo, uma bactéria de nome esquisito, a Xylella fastidiosa, responsável pela doença que atinge quase um terço dos laranjais do Estado de São Paulo. O mapeamento do genoma da Xylella vai levar ao controle de uma praga que causa prejuízos anuais de pelo menos US$ 100 milhões, só em São Paulo, como nos mostra a reportagem do editor especial Eduardo Marini, publicada a partir da pág. 86. A sua leitura com certeza despertará mais do que uma ponta de orgulho. Já na pág. 26, o furo de reportagem escolhido como tema da capa desta edição, assinado pelos jornalistas Mino Pedrosa e Ricardo Miranda, não provocará, certamente, o mesmo sentimento. Lá se fala de um outro tipo de praga que assola o País. E o seu genoma ainda está longe de ser sequenciado.