08/05/2013 - 15:35
A jornalista Ana Luíza Marcolino da Silva, irmã de Suzana Marcolino – namorada do empresário Paulo César Farias, ambos mortos em 1996 -, afirmou nesta quarta-feira que não acredita na possibilidade de a irmã ter matado PC Farias e cometido suicídio. "Minha irmã não merecia ser assassinada como ela foi, porque ela jamais se mataria", disse Ana Luíza, ao final de seu depoimento como testemunha do juiz. Desde a última segunda-feira, os quatro policiais militares acusados de envolvimento nas mortes do casal são julgados no Fórum de Maceió (AL).
Ana Luíza disse que o irmão de PC Farias, o ex-deputado Augusto César Cavalcante Farias, não gostava de Suzana. "Ela sempre relatava que o irmão de Paulo não gostava dela, que era ciumento. (…) Ele era arrogante com ela", afirmou. A jornalista também disse que não sabia nada sobre a arma que Suzana teria comprado em um restaurante. "Procuramos essa arma, mas não encontramos", afirmou.
A jornalista foi a terceira testemunha a depor nesta quarta-feira. Antes dela, quem falou foi Eônia Pereira Bezerra, irmã da falecida mulher de PC Farias, Elma Farias. Ela relatou que recebeu um telefonema da filha do empresário, Ingrid Farias, no dia 23 de junho de 1996 para comunicá-la sobre a morte do pai e da namorada dele. "’Suzana matou meu pai e se matou’ foram as palavras dela", disse Eônia, testemunha arrolada pelo juiz.
Eônia descreveu o momento em que soube das mortes. Segundo ela, o irmão do empresário foi quem contou aos filhos de PC sobre o crime. "Eles estavam em casa quando chegou o Augusto para dar a informação das mortes", disse Eônia. "O Paulo Augusto (César Farias, filho de PC), quando tomou conhecimento do fato, saiu quebrando tudo. Foi preciso três seguranças pra segurá-lo", descreveu a testemunha.
Em seguida, Eônia disse que recebeu um telefonema de Ingrid. "Eu falei: ‘diga o que é’, aí foi quando ela disse: ‘a Suzana matou meu pai e se matou’. Foram as palavras dela", afirmou a testemunha.
A tia dos dois disse que foi até a casa da família de PC Farias com duas amigas por volta das 13h daquele dia. De acordo com Eônia, os dois filhos do empresário estavam em estado de choque. "Ela (Ingrid) estava em choque, tanto ela como Paulo Augusto."
O julgamento dos quatro PMs – Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva -, que trabalhavam como seguranças de PC Farias, começou na última segunda-feira. A sessão de hoje começou com o depoimento de Zélia Maria Maciel de Souza, prima de Suzana e última testemunha da defesa.
Na última terça-feira, falaram 12 testemunhas, incluindo um dos irmãos de PC, Augusto César Farias, que chegou a ser apontado como mandante do crime no início do inquérito. Também foi ouvida Milane Valente, ex-namorada de Augusto. A sessão foi encerrada às 19h15.
Na segunda-feira, prestaram depoimento duas testemunhas: o caseiro da casa de praia onde o empresário foi morto, Leonino Carvalho, e o garçom Genival da Silva França, que serviu a última refeição do casal. Ao longo de todo julgamento, que deve terminar na sexta-feira, serão ouvidas 25 testemunhas, entre acusação e defesa.
O Ministério Público pede a condenação dos quatro por homicídio qualificado. Segundo a tese do promotor Marcos Mousinho, os quatro participaram do crime, no mínimo, por omissão, uma vez que deveriam garantir a integridade do empresário. A promotoria tenta desmontar a tese de crime passional, em que Suzana teria matado PC e se suicidado em seguida.
Os crimes
Paulo César Farias e Suzana Marcolino foram assassinados na madrugada do dia 23 de junho de 1996, em uma casa de praia em Guaxuma. À época, o empresário respondia a vários processos e estava em liberdade condicional. Ele era acusado dos crimes de sonegação de impostos, falsidade ideológica e enriquecimento ilícito. A morte de PC Farias chegou a ser investigada como queima de arquivo, já que a polícia suspeitou que o ex-tesoureiro poderia revelar nomes de outras pessoas que teriam participação nos mesmos ilícitos.
Entretanto, a primeira versão do caso, que foi apresentada pelo delegado Cícero Torres e pelo legista Badan Palhares, apontou para crime passional. Suzana teria assassinado o namorado e, na sequência, tirado a própria vida. A versão foi contestada pelo médico George Sanguinetti, que descartou tal possibilidade e, mais tarde, novamente questionada por uma equipe de peritos convocados para atuar no caso. Os profissionais forneceram à polícia um contralaudo que comprovaria a impossibilidade, de acordo com a posição dos projéteis, da tese de homicídio seguido de suicídio.