O passeio na praia com a família não é mais o mesmo. Pai, mãe e filhos começam a se reunir longe da areia. O lugar marcado para a diversão é em pleno alto-mar. Não se trata de uma volta numa escuna. Mas, sim, de uma prática que vem ganhando mais adeptos a cada dia: o mergulho em família. Há algumas décadas essa atividade era impensável. O mergulho, com fins militares, exigia equipamentos pesados e exercícios duríssimos. Apenas os “rambo-divers”, a elite dos mergulhadores militares, concluíam os cursos com êxito. O esporte começou a se popularizar com o mergulhador francês Jacques Cousteau. Ele criou o regulador para reduzir a alta pressão do cilindro de ar e tornou-o mais leve e menor. Na década de 60 surgiram os primeiros cursos amadores, ainda ministrado por militares. Os equipamentos leves surgiram nos anos 70 nos Estados Unidos. A partir dos anos 90, as escolas de mergulho, já sem os militares, criaram cursos mais rápidos. Os americanos inventaram o cilindro de alumínio, que facilitou a vida dos mergulhadores.

Em consequência disso, a PDIC Brasil (Professional Diving Instructors Corporation), uma das maiores certificadoras de mergulho do País, vem constatando um aumento significativo no número de registros de famílias. Em 1995, 437 mulheres acima de 18 anos adquiriram registro. Em 2002, elas já eram o dobro: 870 certificadas. O número de jovens também cresceu. Em 1995, foram habilitados 52 jovens de 12 a 15 anos. Em 2002, o número triplicou. “O perfil do consumidor está mudando. A tendência de mergulhar em família é um fenômeno mundial”, afirma Marcos Santos Silva, proprietário do Projeto Mergulhar, um dos maiores cursos de mergulho do Rio. O instrutor Rodrigo Figueiredo, 25 anos, dono da loja X Divers, no Rio, concorda. “De 2000 pra cá, o número de famílias nos cursos aumentou 60%”, contabiliza.

No embalo da nova onda, o dono da loja Divers Quest, no Rio, Milton Marinho, criou o “desconto família”. Segundo ele, os pais procuram um esporte em contato com a natureza que integre a família. É por isso que, chova ou faça sol, o médico Ricardo Vivacqua, 48 anos, sempre dá um jeito de ir com a mulher, Verônica, e a filha, Daniela, curtir seu hobby maior: a fotografia subaquática. “Quando deixo a superfície, me desligo de tudo e começo a viver um novo mundo”, conta Vivacqua. Verônica costuma mergulhar também com seus sobrinhos, Victor e Anísio. A paixão do médico vem desde os cinco anos, com o seriado As aventuras submarinas, do capitão Mike Nelson, sucesso na tevê nos anos 60. Tornou-se médico e criou a clínica Aquamed, que cuida da saúde dos mergulhadores. A mulher, cardiologista, nem sequer sabia nadar e aprendeu a mergulhar na marra. “Descobri que eu não precisava saber nadar, mas afundar”, brinca.

Outra família que aderiu ao esporte foi a da dermatologista Vânia Pittela. Preocupada com o abalo no convívio familiar pela rotina de trabalho e as viagens dos filhos com amigos e namorados, Vânia, 50 anos, resolveu pôr um ponto final nos desencontros. “Fiz a matrícula e levei marido e filhos.” A determinação de resgatar a harmonia foi tanta que ela venceu um medo da infância. “Eu tinha pavor, mas enfrentei o trauma e percebi que o mergulho é muito seguro. Aproveito com as pessoas que mais amo.” A família, composta por Vânia e Francisco, 50 anos, Tiago, 18, e Flávia, 21, parece mais unida do que nunca nas aulas práticas na piscina de água salgada na academia Velox Fitness, no Rio.

Os cursos qualificados são divididos em aulas teóricas, prática de piscina e aulas no mar. Depois de cumprir todas as fases o aluno recebe o certificado. Começa então a busca pelo equipamento. Desbravar as profundezas da rica costa brasileira não é tarefa para qualquer bolso. O equipamento completo – máscara, snorkel (tubo plástico para respiração na superfície), nadadeiras, colete equilibrador, cinto de chumbo e roupa de borracha – custa cerca de R$ 4.500. Mas existe uma alternativa bem mais viável para os calouros do mar menos abastados. As operadoras de mergulho, espalhadas pelos principais pontos do litoral, sempre alugam equipamento, em torno de R$ 15 cada peça. Atualmente, os três locais mais procurados pelos fanáticos por mergulho são Fernando de Noronha (PE), Abrolhos (BA) e Arraial do Cabo (RJ).