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Nos últimos anos, poucos países passaram por mudanças tão radicais quanto a China. A economia fechada e avessa a investimentos estrangeiros deu lugar a um mercado pujante, de inclinação capitalista, formado por empresas sólidas e inovadoras. As tensas relações com o Ocidente, especialmente com os Estados Unidos, foram substituídas por uma aproximação sem precedentes, que resultou em frutíferos laços comerciais. Antes refratária a olhares estrangeiros, a China até organizou uma Olimpíada, a de Pequim-2008, e se tornou o terceiro destino turístico do planeta. Faltava para a China contemporânea, porém, um rosto que encarnasse a nova imagem que a nação de 1,3 bilhão de pessoas quer exibir para o mundo. A face dessa transformação atende pelo nome de Peng Liyuan, a charmosa primeira-dama que, desde março passado (quando seu marido, o presidente Xi Jinping, tomou posse), distribui sorrisos generosos a fotógrafos do mundo inteiro. Bela, bem-vestida, inteligente, sexy (segundo a revista americana “People”) e com uma carreira própria, Peng é a alma que faltava para uma China presa à milenar couraça de sisudez. E os chineses estão adorando sua primeira-dama, que já foi comparada a Carla Bruni, Michelle Obama e Jacqueline Kennedy.

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FAMA
Peng com o marido, Xi Jinping: ela sempre foi muito mais conhecida na China do que ele

Peng Liyuan é um caso raro no país. À exceção de Jiang Qing (leia quadro), mulher de Mao Tsé-Tung, arquiteto da Revolução Chinesa, as primeiras-damas dos líderes comunistas sempre foram invisíveis ao público. Discretas e apagadas, elas se recolhiam à insignificância imposta por seus maridos poderosos. Peng é diferente. Em recente visita oficial de Xi Jinping à Rússia, ela não só ofuscou o presidente como se tornou, quase que imediatamente, uma celebridade internacional (embora já fosse uma superestrela em seu país). Na imprensa americana, sua aparição foi chamada de um “novo e maravilhoso frescor anticomunista”. Na Rússia, um famoso blogueiro disse que ela é “tão bonita quanto Carla Bruni, com a diferença de que Peng sabe cantar de verdade”. O frisson causado pela primeira-dama chinesa se deve, também, à sua experiência com os holofotes. Peng é popular na China há quase 30 anos. Antes de seu marido se tornar presidente, ela certamente era muito mais conhecida do que ele. Principal soprano da China e apresentadora de um programa de televisão de sucesso, sabe como poucos se portar diante das câmeras. E dispõe de uma qualidade extra: tem bom gosto para roupas. Gosta de usar vestidos justos que realçam a cintura fina e, nas cerimônias oficiais, aparece sempre de tailleurs bem cortados.

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Embora ainda seja cedo para conhecer as reais mudanças que Peng possa provocar, o que se espera dela é que ajude a mulher chinesa a desempenhar um novo papel na sociedade. Peng não tem nada de submissa, ao contrário de suas antecessoras. Em recente entrevista a jornalistas chineses, surpreendeu a todos com uma declaração sobre Xi Jinping: “Não me importa se ele é um líder mundial. Aos meus olhos, é só o meu marido.” Ela também deu pitacos sobre a economia do país e, segundo alguns blogueiros independentes, já participou de reuniões ministeriais, embora essa informação não seja confirmada oficialmente. Apesar de adicionar leveza ao país e de abrandar a imagem da China no Exterior, Peng ainda enfrenta duros obstáculos. Assim que se tornou primeira-dama, o Partido Comunista “recomendou” que evitasse cantar em público. Pior ainda: muitos detalhes de sua vida pessoal foram apagados. Uma ingênua biografia oficial de Peng, produzida a toque de caixa assim que Xi Jinping assumiu o poder, a transformou em heroína próxima da divindade – o que é, claro, uma tolice. Resta saber se Peng Liyuan vai superar essas barreiras para realmente transformar a China. O mundo espera que sim. Ela sabe de seu valor:“Eu sou como o panda: um tesouro nacional.”

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