Entre políticos e sindicalistas, o deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT), é conhecido pela virulência com que defende os seus interesses. Nos últimos dias, porém, ele conseguiu se superar. Diante de milhares de pessoas que assistiam à comemoração do Dia do Trabalho promovida pelas principais centrais sindicais, com exceção da CUT, na capital paulista, Paulinho da Força defendeu a volta de uma arma retrógrada aposentada há mais de duas décadas da economia do Brasil: o chamado gatilho salarial. O político propõe que os trabalhadores tenham os salários reajustados trimestralmente para repor as perdas com a inflação. Trata-se de uma esperteza política. À primeira vista, a demagógica proposta do líder da Força Sindical seduz qualquer assalariado. Afinal, todos querem mais poder de compra. Ocorre que, ao se indexar salários, os custos salariais automaticamente são repassados aos custos de produção retroalimentando os aumentos de preços. Aí, sim, o Brasil terá um problema inflacionário real. No passado, ficou provado que quem paga essa conta é sempre o trabalhador, uma vez que seu reajuste ocorre em cima de aumentos já estabelecidos. Paulinho da Força, no entanto, parece não se preocupar com os efeitos da medida. Questionado por ISTOÉ se o gatilho salarial geraria inflação, respondeu: “Não é problema nosso. Quem tem de lidar com isso é a equipe da Dilma.”

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RETRÓGRADO DE CARTEIRINHA
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT) faz um jogo populista e irresponsável

De tão estapafúrdio, o gatilho salarial defendido pela Força Sindical conseguiu ser criticado por integrantes do governo federal e da oposição ao mesmo tempo, mostrando que não há qualquer chance de a proposta prosperar. Não poderia ser diferente. Eles sabem que a inflação, nos últimos 12 meses, registrou um aumento de 6,59% e apresenta uma tendência de queda. O País vive uma situação nada parecida com a de antes do Plano Real, quando a inflação superava a marca dos dois dígitos ao ano e os consumidores corriam contra as máquinas de remarcar preços. Além disso, em 2012, 94,6% das categorias obtiveram nas mesas de negociação ganhos acima da inflação. Em vez de beneficiar o trabalhador, o gatilho salarial – irresponsavelmente pregado por Paulinho – destruiria um legado construído por diferentes partidos por quase duas décadas.

"Não é problema nosso (o gatilho gerar inflação).
Quem tem de lidar com isso é a equipe da Dilma”

Foto: Foto: João Castellano/Istoé