De olho nos avanços dos laboratórios farmacêuticos, os cientistas da beleza estão tomando emprestado alguns medicamentos com ação comprovada contra doenças para reforçar seu arsenal de combate a problemas de difícil solução, como a flacidez da pele e a perda dos fios de cabelos e cílios. Neste mês, a empresa de cosméticos Avon colocará no mercado o mais novo representante dessa categoria, um creme contendo a molécula Aminofil-33. Até agora, ela era normalmente receitada para o tratamento da ictiose lamelar, doença genética rara que causa graves escamações da epiderme. De acordo com a indústria, testes realizados no seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos, nos Estados Unidos, indicaram que essa molécula também estimularia a produção de colágeno, proteína que dá firmeza à pele. “Essa substância consegue desativar o bloqueio ao colágeno por um caminho biológico desconhecido até então”, disse à ISTOÉ o bioquímico Robert Kalafsky, diretor do Centro de Pesquisa da companhia. O novo cosmético promete ação intensa sobre rugas profundas.

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Pamela usa produto para estimular o crescimento dos cílios.
Seu princípio ativo é o mesmo de um medicamento contra o glaucoma

Outro produto com percurso similar é o manitol, originalmente indicado para tratamento do edema cerebral. “Ele está ganhando cada vez mais espaço entre os recursos para dar volume a àreas específicas do rosto e atenuar rugas”, diz o cirurgião plástico Vitorio Maddarena, de São Paulo. Indicado em associação com o ácido hialurônico, composto já utilizado para o preenchimento de rugas profundas, o manitol tem a propriedade de atrair em média dez vezes mais água para a região a ser tratada, o que potencializa o efeito do ácido hialurônico. Como resultado desse efeito já comprovado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou o produto Juvéderm Hydrate, da Allergan, que combina as duas substâncias para o tratamento de rugas finas e já está sendo usado nas principais clínicas de dermatologia e cirurgia plástica do País. “São necessárias aproximadamente cinco sessões e o resultado é praticamente imediato”, explica a dermatologista Silvia Zimbres, que passou a utilizar o produto em seu consultório em São Paulo.“Antes o único tratamento para marcas superficiais era o laser, muito mais caro e agressivo.”

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Entre os remédios que serviram de base para a formulação de novos cosméticos, um em especial, o bimatoprosta, revelou seu potencial para a beleza a partir de efeitos curiosos. Usado em colírios prescritos para tratar o glaucoma (doença caracterizada pela elevação da pressão intraocular), a substância deflagrou um crescimento anormal dos cílios. Com esse resultado, a indústria não perdeu tempo. Hoje é possível encontrar no mercado o Latisse, produto recomendado para portadores da hipotricose, condição definida pela quantidade insuficiente de cílios para a proteção do globo ocular. Como não possui efeitos colaterais, há aqueles que o utilizam para dispensar os cílios postiços e realçar permanentemente o olhar. É o caso da analista de mídias sociais Pamela Nunes, 25 anos, que adotou o produto há três meses e passou a integrá-lo na sua rotina diária de beleza. “Uso sempre antes de dormir”, diz. “Fiquei impressionada porque meus cílios cresceram tanto que chegam até a encostar nos óculos”, diz.

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O sucesso com o bimatoprosta é tanto que agora o composto está sendo estudado para combater a queda de cabelo. Estudo publicado pela revista da Associação Americana de Biologia Experimental demonstrou, em ratos, que a substância ativa folículos capilares inativos, permitindo a retomada da capacidade de crescimento dos fios. Os mesmos efeitos foram obtidos com folículos capilares humanos. “O teste revelou novos caminhos de ativação de receptores para o crescimento de cabelo a serem explorados”, disse à ISTOÉ Valerie Randall, do Centro de Ciências da Pele da Universidade de Bradford, no Reino Unido, e uma das autoras do trabalho. O passo seguinte será testar o produto em seres humanos. Também está em avaliação o Dermagraft (laboratório Shire), um composto de células vivas aprovado nos Estados Unidos e no Canadá para tratar úlceras nos pés provocadas pela diabetes. Na beleza, sua função potencial é o preenchimento de sulcos e marcas de expressão.

Fotos: Pedro Dias/ Ag. Istoé