A propósito da barbárie demonstrada na rebelião da Febem no domingo 24, assunto de capa da última ISTOÉ, este espaço foi usado, naquela edição, para registrar a crescente sensação de insegurança da população e também o gelado sentimento de horror perante a selvageria lá demonstrada por adolescentes que trucidaram companheiros, chegando a arremessar a cabeça de um deles para fora dos muros. Também se registrou aqui, naquele momento, a vergonha sentida pela população ao se deparar com a crônica incompetência das autoridades em apresentar uma solução para um problema eminentemente social. Seguindo o que há de pior no Terceiro Mundo, enorme e crescente parcela da população é alijada das condições básicas de sobrevivência e se vê impossibilitada de criar seus filhos por total falta de recursos básicos, funcionando como provedora de matéria-prima para as Febens do País.

Mateus da Costa Meira, personagem central dos eventos escolhidos como assunto de capa desta edição, tem alguma coisa em comum com o que foi dito na última semana. Não que ele seja fruto daquela população de desvalidos, acima mencionada e típica do Terceiro Mundo, que cresce Brasil afora. Pelo contrário, aos 24 anos ele está, ou estava, no último ano de Medicina de uma das melhores faculdades do País. Seu pai é um oftalmologista da classe média alta de Salvador, que um dia mandou seu menino a São Paulo para poder orgulhar-se de ter um filho médico, como ele. Mas se Mateus não está entre o que há de mais vergonhoso no Terceiro Mundo, aquele pessoal cuja entrada é proibida nos shopping centers, ele sem dúvida traz para o Brasil o que há de pior no Primeiro Mundo. O massacre por ele promovido em um cinema de um shopping de São Paulo proporcionou a mesma sensação de insegurança e o mesmo gelado sentimento de horror daquele provocado pela barbárie da Febem.