Conheça, em vídeo, algumas das produções que abriram caminho para essa nova onda de séries, filmes e documentários feitos no País:

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Quase todas as vezes que o Estado intervém e tenta regrar o mercado do entretenimento e da produção audiovisual, fixando cotas de exibição obrigatória de produtos nacionais, tem-se muita polêmica teórica sobre a liberdade de atuação, críticas que escondem interesses meramente financeiros e pouco resultado prático para o público no que diz respeito à qualidade da programação. O Brasil vive agora, no entanto, uma situação completamente inversa – e para melhor. A chamada “Lei da Tevê Paga”, promulgada pelo governo federal e que a princípio parecia que despencaria no mercado feito um míssil, na verdade calçou como luva a nova realidade que envolve os canais abertos e fechados – a crescente conquista, por parte das produtoras brasileiras, de horários de exibição na tevê paga. A nova lei dá um passo além ao determinar que alguns períodos de transmissão têm de se encaixar no chamado horário nobre (entre seis da tarde e meia-noite).

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PÉ DIREITO
"Contos do Edgar", exibido pela Fox, registrou
a maior audiência das séries brasileiras no canal

“Houve reclamação, é claro. Mas é inegável que as produções nacionais apresentam atualmente alta qualidade e contra tal fato não há argumento”, diz o produtor Luiz Noronha, diretor de núcleo da produtora Conspiração. Se ouviu-se chiado nos canais fechados, também o público estranhou, uma vez que, tradicionalmente, canal aberto é para programa brasileiro e canal pago é para programa estrangeiro – até porque é pago. Ocorre, porém, que o lado factual da qualidade técnica brasileira à qual Noronha se refere tem-se reforçado nos últimos tempos através de prêmios trazidos para o País, e ambas as partes (público e emissoras) viram que a nova onda leva a porto seguro. A própria Conspiração, hoje com 28 projetos, foi ganhadora do Emmy, o Oscar da tevê, com a série da Rede Globo “A Mulher Invisível”. Do lado da tevê fechada, nunca se vira o fenômeno que ocorreu com a Fox: ela atingiu o topo no ranking de audiência dos canais pagos, segundo o Ibope, com a brasileiríssima série “9 mm”, sobre o trabalho de policiais. “Essa experiência quebrou velhos paradigmas em todas as direções, inclusive no público, que, ao pagar pela assinatura do canal, só assistia com bons olhos àquilo que vinha de fora”, diz o vice-presidente de programação e conteúdo da Fox International Channels Brasil. “O mercado comprovou que os produtos nacionais, desde que tenham bom padrão, possuem relevância às empresas e atraem o telespectador.”

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DESAFIO
Em "O Infiltrado", do History, jornalista se passa por pastor, lutador de MMA e segurança

Com o advento da regulamentação que acomodou de vez um mercado no qual as melancias já se ajeitavam com o próprio balançar da carroça, para se trazer para os dias atuais uma frase que se popularizou há tanto tempo – quando o incipiente cinema falado disputava fatias com o cinema mudo –, alvissareiros números vieram à tela. A Agência Nacional de Cinema (Ancine), por exemplo, estima que a produção audiovisual passe a gerar anualmente cerca de R$ 400 milhões. Nos últimos meses, o número de filiados na Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão (Abpitv) cresceu 57,8%. Somente em São Paulo, onde se contavam 80 produtoras associadas à entidade, agora se contabilizam 129 – uma escalada de 61,25%. “Antes mesmo da regulamentação, já se notava movimentação no mercado de tevê por assinatura”, diz o presidente da Abpitv, Marco Altberg. Há poucos anos, nos bares que reúnem profissionais dessa área, sobrava gente com o cotovelo no balcão, copo cheio e bolso vazio, dizendo-se dono de grandes ideias, mas lamentando a falta de vagas para trabalhar. Hoje, adeus, balcão do botequim. “Já se nota carência de profissionais”, diz o presidente-executivo da produtora Mixer, Hugo Janeba. “Estamos trazendo profissionais do Exterior para preencher as lacunas.” Reação em cadeia, a participação cada vez maior do Brasil nos canais fechados reflete no panorama da formação profissional – formam-se mais técnicos de operação de câmeras, atores, diretores e, sobretudo, roteiristas. Isso mesmo, roteiristas que antes se limitavam aos “papos cabeça” com o diploma sobrando na mão. Para se ter uma ideia, no ano passado o curso de audiovisual na Universidade de São Paulo ficou entre os dez mais concorridos no vestibular, com 35,80 candidatos por vaga. Ainda no campo do ensino, nos primeiros quatro meses deste ano, a RioFilme, instituição ligada à Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, abriu 14 cursos técnicos (somente o da USP é curso superior) com 550 vagas. Também em 2013, já passa de 280 o número de produções brasileiras a serem exibidas em canais internacionais – nada mal, em janeiro de 2012 existiam 56 produções.

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LINDAS MULHERES
"O Negócio" é a próxima atração da HBO. Conta a vida de três garotas de programa

Está-se fazendo de tudo: de séries a programas de lifestyle, de jornalismo à animação. E, importante, muito desse “tudo” é agora produzido não mais meio cá meio lá, mas, sim, com formato e características daquilo que tem endereço certo e único: os canais fechados. Vale destacar, entre as atrações, “Agora Sim”, sitcom sobre uma agência de publicitários que irá ao ar no Sony; “O Negócio”, drama abordando a vida de prostitutas de alto luxo, a ser exibido na HBO; “O Infiltrado”, em que o jornalista Fred Melo Paiva revela facetas da realidade, atração do History; e “Se Eu Fosse Você – A Série”, que será visto na Fox, baseado nos filmes de estrondoso sucesso estrelados por Tony Ramos e Gloria Pires. O canal OFF, especializado em esporte e ecologia, abrirá espaço para 20 estreias de produções brasileiras. “Temos de buscar o telespectador, conquistar assinantes, com uma linguagem mais ousada”, diz Andréa Barata Ribeiro, uma das executivas mais influentes nesse setor, segundo a revista “Forbes”, e fundadora da produtora O2 Filmes. Em tempo: é justamente ao trabalho da O2 que o canal Fox deve a conquista da maior pontuação de audiência entre as estreias nacionais de 2013 com um episódio especial de “Contos do Edgar”. O programa virou série mesmo com um protagonista que jamais pisara em grandes emissoras – Marco Andrade. Bom para a brasileira O2 Filmes, bom para o canal estrangeiro Fox e, melhor ainda, para todo o público.