O que determina o sexo masculino e o feminino na concepção humana? Se tal questão caísse em algum vestibular, até a semana passada a resposta certa seria: dois cromossomos X para a mulher e um X e um Y para o homem. Agora não mais. Os resultados de duas pesquisas prometem revolucionar o estudo da herança genética e alterar bastante os livros escolares. Pesquisadores americanos conseguiram criar ratos machos que apresentam os dois X, provando que não é a combinação do X e do Y que determina o sexo masculino. Em outra experiência, constatou-se que esses dois cromossomos evoluíram de um par idêntico que existiu há cerca de 300 milhões de anos. Feitas de forma independente, uma pesquisa acabou corroborando a outra. Acabou-se descobrindo que o gênero masculino é, na verdade, determinado pela ação de dois genes embutidos nos cromossomos, chamados Sry e Sox 9.

“As fêmeas são machos ‘reprimidos’ e os machos são fêmeas ‘reprimidas’, afirmou Paul Overbeek, um dos autores da pesquisa e professor de Biologia Celular da Escola de Medicina Baylor, de Houston. Para entender tal declaração com conotações tão amplas, ele lembra o que se sabia até então. Dos 46 cromossomos humanos, 44 são pares idênticos. Dois outros, o X e o Y, são diferentes. Embriões com dois X desenvolvem fêmeas, enquanto os que têm X e Y desenvolvem machos. Descobriu-se há dois anos a função do gene Sry, preso ao cromossomo Y, na determinação do gênero masculino. Também era sabido que o Sox 9 é o gene que ativa o Sry. Havia, portanto, duas teorias: a de que os machos teriam a capacidade de “ligar” o gene Sry; ou então que seriam as fêmeas que teriam a chave para “desligar” esse gene. O resultado das pesquisas agora divulgadas provou que as duas hipóteses estão certas. Assim, uma fêmea normal com dois cromossomos X não aciona o gene Sox 9 porque ele foi desativado, enquanto que um macho XY tem e faz funcionar esse gene.

“Nós eliminamos a habilidade da fêmea de suprimir o Sox 9 e, como resultado, o rato com dois X acabou acionando esse gene, o que foi suficiente para que o macho se desenvolvesse mesmo na ausência completa do cromossomo Y”, conta Overbeek. Ao apresentar sua descoberta no último minuto da conferência anual da Sociedade Americana de Genética, ele garantiu que isso é verdadeiro também para os humanos. O único porém é que esse macho com dois X não pode se reproduzir, é estéril. O que levou os pesquisadores a concluir que as células germinativas (gametas), presentes no esperma, são criadas por outros genes do cromossomo Y ainda desconhecidos. Já foi dito que os homens vêm de Marte e as mulheres de Vênus (a partir de um livro de John Gray que fez grande sucesso em 1992, no qual ele destaca as diferenças básicas entre os dois sexos). Então, volta-se à velha pergunta: quem veio primeiro, Adão ou Eva? E a resposta, pelo menos agora, é: nem de Marte nem de Vênus, ambos surgiram ao mesmo tempo e são geneticamente a mesma coisa.


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