Foi um espetáculo de proporções estrondosas. Um público monumental, estimado em 600 mil pessoas que se acotovelaram por um lugarzinho e chegaram a apertar-se por até duas horas para usar um banheiro, compareceu à missa celebrada pelo carismático padre Marcelo Rossi na região de Santo Amaro, em São Paulo, na terça-feira 2, dia de Finados. Por mais de três horas, os fiéis foram animados pelos hits do padre cantor como Erguei as mãos e o novíssimo Vira de Jesus ao som dos quais fiéis e grupos de freiras sacudiam-se em coreografias animadas. O megashow que mobilizou 6% da população da maior cidade brasileira e distribuiu 70 mil hóstias foi a terceira maior reunião católica realizada no País. Ficou atrás apenas de duas missas celebradas pelo papa João Paulo II.

Juntamente com padre Marcelo e o bispo dom Fernando Figueiredo, da Arquidiocese de Santo Amaro, participaram o cantor Roberto Carlos, com um comovido Nossa Senhora logo após a leitura do trecho da Bíblia em que Jesus Cristo devolve a vida a Lázaro, e ainda Agnaldo Rayol, que dividiu a interpretação de Ave Maria com o rei. Roberto Carlos disse ter rezado pela mulher, Maria Rita, durante a missa. Ela retomou o tratamento contra um câncer no útero diagnosticado em 1998. “Fiquei emocionado com o amor do público. É uma mão amiga me dando apoio numa hora difícil”, disse. Os sertanejos Chitãozinho e Xororó, Sandy & Júnior e Sérgio Reis também interpretaram hits religiosos.

O showmissa foi transmitido pela Rede Globo e chegou a atingir 32 pontos de audiência, resultado espetacular para o horário da manhã, que patina numa sofrível média de 8 pontos com o fraco Angel Mix. Chegou a circular a informação de que o padre Marcelo havia assinado um contrato de R$ 150 mil com a Globo acertando aparições regulares em programas da emissora. A versão foi desmentida pela assessoria do padre. O boato não parecia de todo desprovido de sentido, já que quase todas as estrelas que compartilharam o palco com o padre Marcelo são, direta ou indiretamente, ligadas à emissora. Chitãozinho e Xororó são anfitriões do caipira Amigos e Sandy & Júnior têm um programa próprio. Agnaldo Rayol voltou a ficar em evidência com o tema da nova novela Terra nostra. A música, inclusive, fez parte do repertório do show, dando um toque insólito à missa de Finados.

Mas a festança de terça-feira foi bem acolhida pela Igreja, acuada pelo crescimento da Igreja Universal, pródiga em eventos do gênero. “Achei uma coisa muito bonita. É importante que no dia de Finados haja manifestações de nossa crença na ressurreição”, considerou dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo auxiliar de São Paulo. Ele, no entanto, reconhece a existência de forças ocultas nos bastidores do evento. “É evidente que há interesses por trás de um evento como esse. Interesses de meios de comunicação, da imprensa e de tevês. Há uma guerra de grupos econômicos aí.” Embora não dê nome aos bois, o bispo faz referência à briga comercial entre a Globo e a Record do bispo Edir Macedo. E conclui: “A grande indagação que deve estar presente é: qual é a qualidade do cristianismo que estamos testemunhando?” Isso a Igreja Católica ainda não sabe responder.