A polícia paulista quer mudar sua imagem e sua forma de ação. Pretende trocar a identificação com a violência e a repressão por uma postura de parceria com a comunidade. Isso já vem ocorrendo – com sucesso – em mais de 200 áreas do Estado, principalmente no interior. Cerca de sete mil PMs (do efetivo de 80 mil) já discutem com a população como resolver o problema da segurança e até estratégias para conseguir iluminação, água e asfalto. O policial convive diariamente com a comunidade, trabalhando sempre na mesma área. Aos poucos conhece todo mundo pelo nome e sabe tudo o que o bairro precisa. E a população passa a confiar na polícia e não a vê mais como inimiga. Mas isso, porém, não muda da noite para o dia. A fim de ouvir e debater experiências semelhantes desenvolvidas em outros países, a PM paulista trouxe vários especialistas para o I Fórum Internacional de Polícia Comunitária e Direitos Humanos, realizado de quarta-feira 3 a sexta-feira 5, no Anhembi.

No encontro, houve um consenso de que são necessários pelo menos dez anos para que toda a corporação assimile a nova visão e passe a atuar dentro da proposta de policiamento comunitário. “A polícia comunitária já existe há 15 anos nos Estados Unidos. Mas ela não funciona da mesma maneira em todos os Estados. Uns estão mais adiantados e outros não. A responsabilidade por essa mudança de filosofia é de toda a sociedade. É 50% da polícia e 50% da comunidade”, ensina o diretor do Departamento de Justiça em Washington, Thomas Frazier, responsável pela implantação da polícia comunitária em todos os Estados Unidos. “Também não existe uma pílula mágica. Não é de um dia para o outro que se pega a idéia e tudo passa a ser perfeito”, complementa Gerard Rudoff, do Departamento de Polícia Comunitária de Miami. Para Frazier, o importante é que a polícia brasileira está indo no caminho certo. “Essa interação da comunidade com a polícia é o que se busca hoje no mundo inteiro.” Na contramão dos entusiastas da experiência da polícia do prefeito Rudolph Giuliani em Nova York, Frazier garante ser impossível manter em prática a chamada tolerância zero. “Nenhuma polícia é tão grande para manter alguém em tempo integral em todos os locais necessários. Ninguém vai poder manter um pelotão o tempo inteiro numa mesma área.”