Jeito de menino e espinhas pelo rosto. Mateus da Costa Meira, 24 anos, veste uma camisa pólo cinza já suja de pó do chão em que dorme desde a madrugada da terça-feira 2, sobre um colchonete. Faz calor. Ele está de bermuda jeans, meias soquete brancas pelo avesso e tênis sem cadarço, retirado pelos policiais para evitar tentativa de suicídio numa cela reservada do 96º Distrito Policial, no Brooklin. Algemado, Mateus falou a ISTOÉ por 20 minutos na noite da quinta-feira 4. Num canto do xadrez sentado no chão, com a cabeça baixa, ele perece divagar. Durante a conversa, chega a se perder quando fala de datas e cifras. Na maior parte das vezes, fala olhando nos olhos do interlocutor, ao contrário da sua principal característica segundo vizinhos e colegas de turma. Contou que pediu aos policiais algo para ler. “Pode ser um livro, palavras cruzadas ou até a Bíblia”, disse. Nesse dia, almoçou sanduíche com Coca-Cola e depois tomou as doses dos medicamentos Rivotril e Zyprexa, tarja preta, indicados por seu psiquiatra, que o deixaram levemente sonolento. Durante horas, Mateus conversou com os policiais. “Antes, pensei em entrar no cinema com uma granada, mas me pediram US$ 150 e achei que não valia. Escolhi a metralhadora porque ia dar mais impacto na mídia. Apesar de não saber usar a arma direito, achei que valia”, disse a dois deles. Pausadamente, Mateus conta detalhes de sua ação bárbara que, caso tivesse sido concretizada como preliminarmente foi elaborada, teria sido muito maior: “A arma não disparava em rajadas, como eu pensava. Era um tiro de cada vez.”

ISTOÉ – Por que você, depois de assistir a uma parte do filme e ter saído da sala, voltou e entrou atirando?

Mateus Meira – Porque recebi um aviso há um tempão para fazer isso. Há sete anos estou atormentado e ouço vozes me perseguindo.

ISTOÉ – Como você planejou tudo?

Mateus – Fiquei quase um mês atrás das armas e munições.

ISTOÉ – Por que você atirou primeiro no espelho do banheiro do cinema?

Mateus – Pra ter certeza de que a arma ia funcionar.

ISTOÉ – Você estava drogado quando decidiu atirar nas pessoas? Usa cocaína há muito tempo?

Mateus – Meus advogados me orientaram a não falar sobre o assunto.

ISTOÉ – E onde você arranjou tanto dinheiro para comprar carro importado e uma metralhadora?

Mateus – No último mês ganhei muito dinheiro com a pirataria do software (leia mais à pág. 138). Resolvi então comprar o carro e depois a arma. Mas bati em Campinas. O carro foi para a oficina. Foi quando conheci o Marcos, que me vendeu a arma. Ele fazia bicos de mecânico na concessionária.

ISTOÉ – Por que o Fiat Palio, emprestado pela seguradora, foi encontrado na casa de Marcos?

Mateus – Eu também decidi contratá-lo para dirigir, por isso ele ficou com o carro. Eu não sei dirigir carro mecânico, só os automáticos.

ISTOÉ – O que provocou essas manchas avermelhadas nas suas orelhas e em seu pescoço?

Mateus – Foi no cinema, no momento em que me imobilizaram.

ISTOÉ – Você tinha tudo para dar certo. É rico, inteligente e com uma carreira promissora. Como se sente?

Mateus – Estou arrependido.

ISTOÉ – Você tem algo a dizer aos parentes das vítimas e às pessoas que ficaram feridas?

Mateus – Peço desculpas.

ISTOÉ – O que você imagina que poderá acontecer daqui em diante?

Mateus – Não estou com medo do meu futuro. Gostaria de voltar para onde eu estava.