"Está parecendo um moedor de carne. O chão está cheio de corpos, membros e cabeças decepadas." A jornalista Olga Vyslova teve que se conter para não demonstrar emoção ao descrever as cenas que ela presenciava no que restou da feira livre de Vladikavkaz, capital regional da Ossétia do Norte, na Rússia. Na manhã de sexta-feira 19, quando várias famílias faziam suas compras de fim de semana, uma poderosa bomba escondida numa barraca explodiu num setor que vendia batatas. Pelo menos 60 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas. A feira virou um monte de escombros com corpos despedaçados e pedaços de membros ensanguentados misturados a batatas e a roupas rasgadas. Sobreviventes gritavam desesperados em busca de parentes ou amigos em meio a equipes de socorro que utilizavam carrinhos de transporte de frutas e legumes para carregar mortos e feridos. "Muitas pessoas foram cortadas pelo meio", informou um oficial da polícia. A maioria das vítimas era de aposentados e trabalhadores pobres, segundo informaram testemunhas. Até a noite de sexta, ninguém tinha reivindicado a autoria do atentado.

O presidente russo, Boris Yeltsin, despachou para Vladikavkaz, localizado a 50 quilômetros de Moscou, o ministro do Interior, Sergei Stepashin, e o chefe do Serviço Federal de Segurança (sucessor do KGB), Vladimir Putin. A república autônoma da Ossétia do Norte está localizada na região do Cáucaso, que viveu nos anos recentes um período de muita turbulência. A violência foi causada tanto pelas revoltas étnicas como por bandos armados do crime organizado localizados na vizinha Chechênia. Na frustrada guerra de independência que a Chechênia travou contra a Rússia entre 1994-1996, a Ossétia alinhou-se a Moscou, o que irritou os chechenos. Antes disso, em 1991-1992, confrontos étnicos opuseram os habitantes da Ossétia do Norte aos da Ingushetia, a Leste.

Uma partida de futebol entre as equipes da Rússia e de Andorra do torneio Euro 2000 estava prevista para ser realizada em Vladikavkaz na próxima semana. No início do mês, a federação de Andorra já tinha expressado preocupação com a segurança de sua equipe por causa da proximidade da cidade com a Chechênia. Mas a polícia não acredita que o atentado possa ter algo a ver com a realização do Euro 2000.