O patinho feio começa a virar cisne novamente. Depois de entrarem em profunda depressão com a queda de produção por causa da inadimplência e das taxas de juros altas, os empresários da indústria de aparelhos de som, vídeo, lavadoras de roupas e geladeiras – aqueles mesmos que ficaram em delírio com a explosão das vendas nos três primeiros anos do Plano Real, quando o mercado de televisores cresceu 70% – começam agora a viver um clima de otimismo com pé no chão. Os sinais de revitalização ainda são tímidos, mas tudo indica que os próximos anos devem ser bons para empresas como CCE, Gradiente, Multibrás e Sharp. Não é à toa que a Gradiente, por exemplo, apesar da dívida de R$ 678 milhões e do prejuízo de R$ 20 milhões do primeiro semestre – conforme dados da consultoria Austin Asis -, teve suas ações valorizadas em mais de 600% desde agosto. Muito acima dos 100% do índice da Bovespa o ano todo. “A alta foi motivada por boatos de que a empresa iria se associar a um grupo estrangeiro, o que não foi confirmado, e à reestruturação da companhia”, explica Juliana Chu, analista de investimentos da corretora Fator. Ela ressalta também que os papéis estavam muito baratos. A Gradiente criou três unidades de negócios – as de áudio e vídeo, video-games e de produtos de telecomunicações -, sendo que a última já responde por 50% do seu faturamento semestral de R$ 210 milhões. Mas a perspectiva é de melhora geral dessa indústria. “Estamos no início de um processo que será sustentado pelas inovações dos produtos, como o DVD, que começa a pegar no Brasil, televisores digitais e lavadoras de roupas de última geração”, explica Nelson Wortsman, presidente do conselho da Eletros, entidade que representa o setor.
 

Aliada às inovações, a retomada dos negócios deverá ser motivada pelo crescimento do PIB e pela redução das taxas de juros para o consumidor. A diretoria da Philips prevê inclusive que boa parte dos trabalhadores que hoje estão no mercado informal e não conseguem financiamento terá instrumentos para adquirir bens de consumo a prazo dentro de quatro anos. Foi vislumbrando esse cenário que a americana Whirpool se antecipou e decidiu investir US$ 100 milhões para comprar os 45% das ações que ainda não detinha na Multibrás, empresa que fabrica eletrodomésticos das marcas Brastemp e Consul. Evidentemente, não quer dividir o bolo no momento em que os negócios decolarem. “Vamos crescer em 2000 na mesma proporção do aumento da economia do País”, declara Paulo Periquito, diretor-presidente da Multibrás. Dados da Eletros a serem divulgados nesta semana confirmam que o caminho de recuperação já começou. As vendas de televisores em outubro atingiram a marca de 440 mil aparelhos, 20% a mais do que em setembro. As geladeiras também foram muito bem. Não é à toa que a CCE, tradicional fabricante de aparelhos de áudio e vídeo, fincou seu pé naquele segmento em 1999 e já detém quase 10% do mercado. E os empresários dessa indústria pretendem crescer inclusive com exportações. Nos próximos dias, tentam convencer o BNDES a liberar financiamentos acima de US$ 500 milhões para a instalação no Brasil de fábricas de componentes de multinacionais. O que baratearia a produção. Só que a proposta deve sofrer resistências de quem acha que o dinheiro do governo não está aí para beneficiar grandes grupos estrangeiros.


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