Por essa a AmBev – a fusão da Antarctica e da Brahma – não esperava. “Estamos perplexos”, resumem Marcel Herrmann Telles e Victório de Marchi, co-presidentes do Conselho de Administração da empresa. Na quinta-feira 11, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) – divulgou um parecer técnico sobre a fusão entre as duas cervejarias. O resultado foi a recomendação de que a Brahma se desfaça de todos os ativos da Skol, incluindo a marca, fábricas e processos de distribuição. Das quatro plantas citadas como sendo fabricantes de Skol, duas estão desativadas há seis anos – Londrina (PR) e Nova Lima (MG). O Seae sugere ainda que sejam vendidas uma fábrica em Cuiabá e outra em Manaus (Brahma e Antarctica possuem uma planta em cada cidade). Tudo isso num prazo máximo de seis meses. E mais: o acordo entre a Brahma e a americana Miller deverá ser revisto. Agora, o processo será encaminhado à Secretaria de Direito Econômico (SDE) – e depois ao Cade, que terá 90 dias para bater o martelo.

A AmBev critica a qualidade técnica do parecer. “Isto está cheirando a uma decisão política, não técnica. Claudio Considera está usando o caso como vitrine”, acusa Telles. Nos bastidores, o que se comenta é que há uma disputa de poder entre as secretarias e o Cade. Segundo os co-presidentes da AmBev, a secretaria tem em mãos uma radiografia completa das empresas, o que torna as recomendações ainda mais absurdas. “Eles disseram que escolheram a Skol por exclusão, porque as marcas líderes das duas cervejarias são Brahma e Antarctica. Qualquer um que acompanhe o mercado sabe que a Skol é a primeira há um ano”, completa Telles. Para ele, a Skol vale cerca de US$ 2 bilhões. Nos moldes sugeridos pela Seae, a fusão entre Brahma e Antarctica resultaria numa empresa com menor participação que a atual Brahma/Skol. Segundo dados da Nielsen, enquanto a Skol tem 27,3% de mercado, as marcas da Antarctica respondem por 22,9%. “Não adiantaria nada apenas tirar a marca Skol do mercado (como aconteceu com a Kolynos, ao ser adquirida pela Colgate), pois o consumidor iria migrar para a Antarctica ou Brahma”, justifica Paulo Corrêa, coordenador-geral de Defesa da Concorrência da Seae.

Quem brindou a decisão foi o presidente da Kaiser, Humberto Pandolpho, que já se candidatou a comprar a Skol. “O parecer técnico referendou o que estamos falando há quatro meses. Eu estava muito preocupado com essa fantasia de empresa verde-amarela, mas agora a máscara caiu”, comemora. Para Guilherme Pântano, analista de bebidas da corretora Fator Dória Atherino, “não deve haver fusão se essa for a palavra final”. Como diz o médico na propaganda da Skol: “Vai doer para sair.”