Dizem que quem compra um vinho está sempre com um sorriso no rosto e muitos planos na cabeça para o momento de bebê-lo. No entanto, no Brasil, com a alta do dólar, escolher um vinho tem deixado de ser uma prazerosa tarefa para, cada vez mais, tornar-se um complexo exercício que obriga o pobre do consumidor a ficar horas diante da prateleira, repetindo movimentos de agachar e espichar.

E já que o maior problema nesta hora é justamente encontrar um bom vinho dentro de um orçamento acessível, IstoÉ resolveu dar uma mãozinha. Convidou três especialistas para ir às compras e selecionar os melhores tintos e brancos de até R$ 25. Desde o início dos anos 90, quando as importações foram abertas e a economia começava a dar sinais de estabilização, o brasileiro descobriu o gostinho de tomar vinho. E acabou mal-acostumado. Habituado a pagar R$ 25 por um bom francês, hoje pena um bocado para satisfazer seu paladar dentro dessa faixa de preço.

“Apesar da crise, o consumo de vinhos no Brasil continua o mesmo. A diferença é que agora a maior preocupação do brasileiro é com a qualidade”, afirma Daniel Pinto, diretor conselheiro da Associação Brasileira dos Amigos do Vinho. Para Carlos Cabral, enófilo há 30 anos, as pessoas aprimoraram o paladar. “O interesse pelo assunto aumentou bastante de dois anos pra cá”, garante ele que, por conta deste novo consumidor, tem treinado funcionários de uma rede de supermercados para que ajudem o cliente.

“O melhor vinho é aquele que você mais gosta”, desmitifica Ennio Federico, enófilo há 30 anos. “Escolhi o vinho branco nacional Reserva Miolo, de uva Chardonnay, safra 99, porque esta foi a melhor safra brasileira dos últimos dez anos”, explica.

Entre as coisas que o consumidor deve observar é a data de fabricação. “Vinho tinto não pode ser muito novo. Deve ter, em média, quatro anos. Já o branco precisa ter no máximo três anos”, ensina Edgar Kawasaki, diretor da Associação Brasileira de Sommeliers do Rio, que considera “honesto” os vinhos que estão na faixa de R$ 10. Para ele, o segredo é aprender a escolher o melhor custo-benefício.

No rótulo, o segredo – José Marcelo Malta, enófilo há 20 anos, concorda e dá um precioso conselho. “Quem procura a melhor relação qualidade-preço do mundo deve ficar com os vinhos portugueses”, revela. Ele ensina que, antes de colocar a garrafa no carrinho, é fundamental checar qual a procedência, pois ela influencia o sabor. Por exemplo, o Acácio, da Bairrada, região norte de Portugal, onde o solo é alcalino, resulta em vinhos menos ácidos.

Além dessas observações, os enólogos garantem que se o consumidor entender o significado das várias descrições que aparecem no rótulo, vai fazer uma boa escolha. A graduação alcoólica alta, maior que 12%, indica que o vinho pode ser guardado por mais tempo. A palavra “Reserva” indica melhor elaboração do produto. Caso esteja escrito “Château” em um vinho francês é porque a produção foi feita com mais cuidado ainda. Já a designação “Grand Cru” significa alta qualidade.

Repare também na garrafa. Ela deve estar bem cheia e a cápsula que envolve a rolha precisa estar em bom estado de conservação. Ao servir o vinho, observe a cor. Ela é essencial. Se o tinto estiver alaranjado e for jovem, é indício de que está ruim. No caso dos brancos, quanto mais amarelo, mais doce.

Outro fantasma que assombra a vida dos consumidores comuns é o medo de não acertar a bebida com a comida. Nada de pânico. Para acompanhar uma refeição completa, comece com os vinhos suaves no aperitivo, passe pelos encorpados e finalize com os mais doces, na sobremesa. A alma do negócio é jamais deixar que o tempero de um prato se sobre-ponha ao sabor do vinho e vice-versa. Comida e bebida precisam estar em harmonia para a total satisfação do paladar.