A sessão dura 50 minutos. Um sensor preso aos polegares mede a temperatura, o grau de umidade da pele e o fluxo sanguíneo do paciente. Um aparelho de eletroencefalograma mostra como o cérebro está processando as palavras do hipnotizador. Não há pêndulos e ninguém fica desacordado. Frases mágicas, que prometem a solução de todos os problemas do paciente assim que ele abrir os olhos, também desapareceram. O sono profundo foi substituído pela semiconsciência; os sintomas e suas causas são atacados por meio de uma reprogramação mental. Essa é a nova cara da hipnose, que ganhou ares de ciência e hoje é utilizada como ferramenta em consultórios dentários, ambulatórios hospitalares, no tratamento de fobias, síndrome de pânico, depressão, ansiedade, stress, alcoolismo, impotência, na melhoria do desempenho de atletas e até de policiais. Mais: ela ganhou também um Conselho Federal e vai passar a fazer parte do ensino superior. Há três meses, o presidente do Conselho, o hipnoterapeuta Paulo Renaud, submeteu ao Ministério da Educação os currículos para a criação da Faculdade de Hipnoterapia. “Tudo deverá estar funcionando no Rio a partir do segundo semestre de 2000. Teremos cursos integrados de Neurologia, Psiquiatria, Psicologia e Hipnose”, comemora.

Resultados – O hipnoterapeuta ganhou destaque na mídia há sete anos, quando curou diante das câmeras de televisão um rapaz gago. “Aos cinco anos, ele viu a irmã cair da janela e não se lembrava. Durante a hipnose, teve uma crise de choro”, conta Renaud. Ele garante que cinco sessões de hipnose são suficientes para eliminar qualquer tipo de problema. “Como na terapia tradicional, fazemos o paciente chegar à causa do trauma e eliminar sua importância. A diferença é que a hipnose permite resultados bem mais rápidos porque ativa a parte posterior do cérebro, ligada à criatividade, emoção, imaginação e reprogramação”, explica Renaud, que tem mestrado e doutorado em Hipnoanestesia e Hipnoterapia clínica nos Estados Unidos.

A polícia também descobriu os poderes da hipnoterapia. Vítimas de assaltos e sequestros submetem-se à hipnose para ajudar na confecção de retrato falado. “Um detetive da Corregedoria de Polícia que tinha sido assaltado conseguiu lembrar o número da placa do carro dos assaltantes, que também eram policiais”, conta Renaud. O hipnoterapeuta treinou ainda auto-hipnose em integrantes de tropas de elite no Rio e Brasília. O objetivo é aumentar as chances de acertar o alvo. “A hipnose cria um reflexo condicionado. Cada vez que pegam na pistola ou fuzil, eles esquecem a tensão do ambiente e centram atenção apenas no alvo”, conta Renaud. Apesar de estar ganhando um caráter científico, Renaud avisa que a hipnose sozinha não faz milagres. “O paciente tem que ajudar. Tem que querer se submeter ao tratamento. A maior parte do trabalho é dele.”