Enquanto o Brasil assiste ao confronto entre o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, com o festival de carrinhos, caneladas e, até agora, nenhum cartão vermelho, há um outro choque entre poderes, tão ou mais nocivo do que esse, em curso no País. Trata-se da guerra surda entre o governo federal e os dirigentes do futebol nacional, às vésperas da Copa das Confederações e de um evento que, em 2014, irá incendiar o País.

No embate institucional, o pano de fundo é a eleição de 2014. Numa liminar polêmica, para dizer o mínimo, o ministro Gilmar Mendes suspendeu a tramitação, no Congresso, de uma lei sobre fidelidade partidária, alegando a necessidade de se preservar a competição política e favorecendo dois projetos, o da Rede, de Marina Silva, e o do Mobilização Democrática, de Roberto Freire, fora do eixo governista – o que foi visto pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como uma “invasão”.

Ocorre que, antes das eleições, virá a Copa do Mundo. E embora muita coisa esteja atrasada, como as obras de mobilidade urbana, a instalação das redes de internet de alta velocidade ao redor das arenas e, sobretudo, a construção do estádio que deveria ser palco da abertura, o Itaquerão, em São Paulo, o governo federal decidiu gastar toda a sua energia alimentando intrigas e divisões entre a cartolagem. O caso mais recente foi uma proposta estapafúrdia do ministro Aldo Rebelo, do Esporte, para sincronizar os calendários dos campeonatos brasileiro e europeus.

Por trás disso, há uma incompatibilidade de gênios insuperável entre os presidentes do País e da CBF: Dilma Rousseff e José Maria Marín. Ela simplesmente não o cumprimenta, em razão da suposta colaboração de Marín com o regime militar. Mas, por mais que o governo tenha antipatia ou mesmo desprezo pelo presidente da CBF, não há nada a fazer. A Fifa, entidade máxima do futebol, talvez seja o objeto do desejo de alguns ministros do STF: um suprapoder transnacional, acima e além dos governos. E o que mais se rejeita na Fifa é qualquer tipo de pressão governamental.

Há, no governo e em alguns círculos lulistas, o desejo de defenestrar o comando da CBF, substituindo Marín pelo ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez. Mas o fato é que, até agora, a grande obra de Sanchez, o Itaquerão, não obteve recursos nem do BNDES, nem do Banco do Brasil, nem da Caixa Econômica Federal, correndo sério risco de naufragar. A essa altura do campeonato, talvez fosse até o caso de substituí-lo pelo excepcional Estádio Nacional de Brasília, na abertura da Copa. E as autoridades do esporte deveriam trocar a intriga política pela organização efetiva da Copa.