A central sindical e a corrente progressista católica sempre se uniram na defesa dos direitos humanos e no apoio a movimentos sindicais e de moradia. Agora, estão divididas por causa do corporativismo exarcebado de um sindicato filiado à CUT, o dos Funcionários da Febem de São Paulo. O sindicato teria levado ao extremo o princípio de defesa dos trabalhadores, inclusive daqueles acusados da prática de tortura e espancamentos de adolescentes. E as entidades ligadas à Igreja passaram a acusar o sindicato de acobertar atos de violência na Febem e proteger os funcionários acusados. O sindicato estaria, inclusive, tentando evitar demissões de monitores denunciados pelo Ministério Público.

Na segunda-feira 15, quatro entidades prometem entrar com uma representação criminal no Ministério Público para apurar denúncias contra funcionários ligados ao sindicato. “Quando os funcionários espancam, são pegos em flagrante e mandados embora, o sindicato sai em defesa deles. E muitos desses monitores são os incentivadores de rebeliões”, acusa o advogado Rildo Marques de Oliveira, do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Ezequiel Ramin, que dá assistência jurídica a adolescentes acompanhados pela Pastoral do Menor. Conforme Rildo, o sindicato exerce hoje um poder paralelo na Febem. “Eles não obedecem a ninguém lá dentro, nem o governador, o presidente ou os diretores da instituição.”

Contradição – Na opinião do advogado, a CUT assume uma posição contraditória ao se manter ligada a um sindicato com posições “retrógradas”. “A central não ia ficar nem mais pobre nem mais rica com a contribuição de um sindicato que dá cobertura para torturador.” A denúncia de apoio de sindicalistas a praticantes de tortura e agressões já rendeu muita discussão e tentativas de conciliação envolvendo o presidente nacio-nal da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. “Me reuni com o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Menor, e as entidades de direitos humanos e depois com parte da diretoria do sindicato que era acusada. Mas os diretores negaram todas essas afirmações”, explicou Vicentinho. “A orientação da CUT é de total apoio, sempre, às lutas dos trabalhadores e ao compromisso e respeito aos direitos humanos.” O sindicalista prometeu apurar novamente o caso. “Ele já sabia de tudo há muito tempo”, garantiu o padre Lancelotti. Um dossiê com denúncias contra o sindicato já havia sido entregue ao Ministério Público. As entidades disseram também ter colhido depoimento de adolescentes que denunciam a venda de fugas e de proteção na Febem. “Alguns meninos contam que a família paga para eles terem segurança lá dentro”, diz o advogado Rildo de Oliveira.

O presidente do sindicato, Antonio Gilberto da Silva, reagiu às acusações. Disse ser militante do PT e defensor dos direitos humanos e ameaçou processar seus denunciantes. “Quem está fazendo essas acusações vai ter de provar na Justiça. Como monitor, sempre segui as determinações do Estatuto da Criança e do Adolescente. E o sindicato não apóia qualquer tipo de violência gratuita. A não ser quando precisamos usar a força física para proteger um adolescente mais fraco ou defender a sua própria vida.” Ele atribuiu as denúncias “ao interesse de muita gente na privatização da Febem”.