Sucesso absoluto entre os americanos, os programas televisivos que exploram o voyeurismo, a morbidez do espectador e, claro, o narcisismo de seus protagonistas acabam de ganhar versões tupiniquins. No domingo 23, estréia na Rede Globo – logo após o Fantástico – o programa No limite, apresentado por Zeca Camargo e inspirado em Survivor, da Rede CBS, que a cada episódio mobiliza cerca de 23 milhões de americanos, graças ao seu caráter dramático e competitivo. Focalizadas em tempo real pelas câmeras da CBS, 16 pessoas, de idades variando entre 22 e 72 anos, vivem as agruras de um Robinson Crusoe capenga, tentando sobreviver durante 39 dias na ilha deserta Pulau Tiga, no Mar da China. Quem aguentar o sofrimento até o fim, leva US$ 1 milhão. Bem menos cruel, mas seguindo os mesmos moldes de uma espécie de Truman show consentido, a MTV brasileira exibe desde a quarta-feira 5 o programa 20 e poucos anos – título extraído de uma canção de Fábio Jr. –, no qual até dezembro 24 jovens têm sua rotina devassada pelas câmeras.

No segundo episódio, que será exibido na quarta-feira 12, há imagens contundentes da vida real. Janaína Teodoro dos Santos, 19 anos, por exemplo, é mostrada desabando em choro em pleno centro paulistano, depois de ser recusada para o emprego de recepcionista, porque tem uma filha. Janaína é uma das oito jovens que despontam no programa nesta primeira fase. Mesmo sendo vista numa situação delicada, ela não se incomodou com a invasão de privacidade. “Gostei de participar porque estava cansada de ver tanta falsidade. Eu que moro na periferia de Diadema não posso me identificar com programas como Malhação.”

20 e poucos anos é uma versão, ainda que substancialmente melhorada, do Real world, programa semelhante feito pela MTV americana. Seu grande mérito recai na escolha dos jovens – serão oito deles nos próximos dois meses – que reúnem características diversas e conflitantes. Há a patricinha, o pit-boy que luta jiu-jítsu, o ex-drogado em recuperação, a garota – virgem e religiosa –, o feirante e a clubber, entre outros. A bem-nascida e endinheirada Tatiana Saccomanno Ferreira, 25 anos, hostilizada desde o início como a patricinha do grupo, acabou se tornando amicíssima de Janaína, apesar do abismo social que as separaram. “Conhecendo pessoas com uma vida mais dura, revi meus valores”, admite ela. A experiência também auxiliou o estudante Rodrigo Rocha Fernandes em sua determinada recuperação das drogas, que dura mais de dois anos. “Estou reformulando minha vida, construindo uma outra personalidade, e neste processo conhecer essas pessoas me fortaleceu ainda mais.” Sem ser piegas e sensacionalista, a atração da MTV atiça a curiosidade do espectador ao mesmo tempo que provoca reflexões. A Globo optou pelo velho formato de gincana. No limite, seus 12 concorrentes prometem se digladiar até o fim por um prêmio de
R$ 300 mil.

Colaborou Letícia Helena (RJ)