Poucos episódios expõem tanto a influência da política na administração pública do que a demora do governo em nomear o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), principal centro científico da região. Desde a posse do ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, em julho, as pressões do senador Gilberto Mestrinho (PMDB), presidente da comissão de Orçamento, e do deputado Arthur Virgílio Neto (PSDB), líder do governo, impedem a posse do professor Marcus Barrus. Ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas, Barrus venceu uma eleição interna e, posteriormente, foi confirmado por uma banca de notáveis montada pelo ministro anterior, Luiz Carlos Bresser Pereira. Não foi efetivado por um motivo que nada tem a ver com ciência ou tecnologia: ele não é governista.

Virgílio diz que tudo estaria resolvido se Barrus, candidato ao Senado pelo PT em 1998, não tivesse atacado tanto Mestrinho e o governo na campanha. “Agora quer que o senador e o governo gostem dele?” Para Virgílio, “ao contrário de Bresser, Sardenberg tem visão global e sabe dos efeitos colaterais de uma nomeação”. Um desses efeitos seria o corte de verbas orçamentárias para o instituto ou para o Ministério. Os notáveis que se reuniram no mês passado com Sardenberg para tratar do assunto saíram de lá com a impressão de que essa chantagem acua o ministro. “Ele se mostrou preocupado com um bloqueio orçamentário. Acho que vai buscar uma solução construindo um órgão maior para a Amazônia, abrigando o Inpa e outros”, disse o professor de genética Kerr Warwick, da Universidade Federal de Uberlândia. “A pressão dos políticos é triste. Daqui a pouco vão nomear até professor universitário.”

Arthur Virgílio diz estranhar o fato de Barrus se interessar por um cargo de um governo que critica. Em artigo no jornal A Crítica, o deputado disse não julgar “pedagógica” a nomeação de um adversário. “Posso garantir que não será nomeado mesmo”, desafiou, concluindo com uma bravata à moda antiga: “(…) talvez seja melhor o doutor Marcus se apresentar a mim de frente, para combatermos.” Já Mestrinho disse que “estaria sendo des-leal ao governo se concordasse com a indicação de um petista para dirigir o Inpa”.

Pressão – Entre os oito nomes submetidos à comissão de notáveis criada por Bresser para escolher o diretor do Inpa, a indicação de Barrus foi por unanimidade. Bresser o convocou a Brasília para informá-lo e encaminhou o projeto de decreto da nomeação ao Planalto. Em julho, Bresser foi substituído por Sardenberg. Passaram-se julho, agosto, setembro, outubro e o ministro entrou em novembro, segundo sua assessoria, “analisando o processo”. É complicada a situação do ministro, obrigado a optar entre a pressão de dois políticos de peso e o critério da escolha com base em critérios acadêmicos. Na comunidade científica, aumentam as pressões para que o governo não ceda a interferências políticas. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) já se manifestou. “Somos a favor do Comitê de Busca. A SBPC pede que seja respeitada a decisão”, diz a presidente da entidade, Glaci Zancan.