Já está nas lojas a Jazz collection, imponente antologia de 20 CDs pinçados do riquíssimo acervo da Sony/Columbia. Ninguém precisa torcer o nariz porque são relançamentos. Quem se aventurar a ouvir alguns destes álbuns de primeira qualidade vai perceber a surpreendente atualidade de músicos como Thelonious Monk, Bill Evans, Miles Davis, Herbie Hancock e Wayne Shorter. O historiador Scott DeVeaux ressalta que enquanto as big bands e o estilo New Orleans soam sempre nostálgicos, o bebop tem sabor atual aos nossos ouvidos internéticos de passagem do milênio. É porque o ritmo constitui o núcleo da passagem do jazz como arte autenticamente popular para a condição de música de invenção. As gravações de músicos novos, entre eles os trompetistas Terence Blanchard e Wynton Marsalis, são verdadeiros exercícios de estilo, ou seja, tocam jazz com o distanciamento do músico clássico. E aí não entra nenhum juízo de valor, apenas a constatação. É assim que as melhores avaliações de cada um dos discos da coleção recaem sempre sobre os registros dos anos 50/60.

Para o consumidor, também conta a relação custo-benefício. Em vez das tradicionais e caríssimas caixas temáticas, a gravadora preferiu lançar os discos individualmente, remasterizados, acrescidos de faixas inéditas e takes desprezados. Entre as grandes obras, o álbum duplo Monk alone reúne tudo o que o pianista e compositor registrou em solo. São 37 faixas iluminadas, já que seu piano não tem paralelo, no jazz ou em qualquer gênero musical. Outro grande destaque é o trompete mágico de Miles Davis em quatro CDs-chave do jazz moderno: Sketches of Spain, Porgy and Bess, Miles ahead e Kind of blue. Ainda na categoria obras-primas entram Piano player, de Bill Evans; o duplo Ellington at Newport; o ótimo Mingus dinasty; e Lady in satin, penúltimo disco de Billie Holiday, de 1958, em que ela, com um fio de voz, consegue ser nada menos do que magistral e comovente.