A Espanha chega ao Brasil através de vários eventos que sublinham sua participação na história do País. Simultaneamente, desembarcam no Rio de Janeiro a grandiloquente mostra Esplendores de Espanha – de El Greco a Velázquez, que pode ser vista da terça-feira 11 a 24 de setembro no Museu Nacional de Belas Artes; uma exposição de obras do escritor Miguel de Cervantes, na Biblioteca Nacional; um ciclo de debates; e até um festival gastronômico. Liderando a caravana, ninguém menos do que o rei Juan Carlos e a rainha Sofia. Foi ele, aliás, o idealizador da bem-vinda e pacífica ocupação. Convidado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a vir ao País por ocasião dos 500 anos do Descobrimento, o rei quis unir a visita oficial a um evento cultural de grande porte como contribuição espanhola aos festejos. Chegou-se no formato da exposição Esplendores de Espanha, que reúne 150 obras vindas do Museu do Prado, do Museu de Belas Artes, de Sevilha, e de colecionadores particulares, abrangendo um custo de cerca de US$ 2 milhões.
Quadros, esculturas, mapas, documentos, jóias e livros compreendem o período entre 1580 e 1640. São quatro módulos: União Ibérica, Defesa do Império, Cultura Espanhola e Arte Espanhola. A época é conhecida como o Período de Ouro da arte espanhola, beneficiada pela pujança econômica do país com o ouro colonial. Graças ao auxílio militar mútuo, a Espanha participou de importantes batalhas em território brasileiro. A primeira delas, antes mesmo da oficialização da União Ibérica, foi travada na Bahia, após a tomada de Salvador pelos holandeses, em 1624. Menos de um ano depois, a monarquia espanhola chegava a bordo de 52 caravelas, munidas de 1.185 canhões e com mais de 12 mil homens para retomar a cidade e devolvê-la a Portugal. O triunfo da expedição foi retratado no enorme painel La Recuperación da Bahia del Brasil, de Juan Bautista Maino. O quadro é o emblema da exposição, e nunca havia deixado o Museu do Prado.

Mestres – Mas o que ainda torna a mostra tão especial é a presença de trabalhos de mestres como El Greco, Velázquez e Zurbarán. O pintor, arquiteto e escultor El Greco, nascido na ilha de Creta, recebeu uma educação italiana. Foi aluno do mestre veneziano Tintoretto, com quem aprendeu a pintar ângulos incomuns, com distorções. Em 1572, viajou à Espanha, levado por amigos espanhóis. Sua chegada foi de grande importância para a pintura espanhola, pois introduziu novidades do renascimento italiano. Também mestre na sua arte, Velázquez – considerado um dos maiores pintores de todos os tempos – se inclui entre os primeiros a dar noções de espaço, com diferenças de tons. O pintor sevilhano se beneficiou do gosto pela arte do rei Felipe IV. Mas sua obra permaneceu isolada na coleção real até a abertura do Museu do Prado, em 1819.

Para que sua tela La tentación de Sto. Tomás, pertencente à Igreja de Valencia, viesse ao Rio, a empresária Frances Marinho, do Instituto Arte Viva, teve de pedir ao governador de Valencia pela liberação. Mesmo com o apoio do Ministério da Cultura da Espanha, alguns colecionadores também não queriam deixar suas obras virem ao Brasil. Frances foi lá convencê-los. Em cinco meses, fez 15 viagens a Madri. “Normalmente uma exposição destas leva dois anos para ser organizada. Fizemos em oito meses”, afirma ela. Os europeus já deveriam estar convencidos de que o Brasil, definitivamente, entrou no circuito internacional das artes.


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