Ecolher a faculdade certa nunca foi tarefa fácil. Ao martírio psicológico gerado pela busca da vaga, o vestibulando costuma somar a queima de fosfato para escolher o curso e a instituição à altura de seu projeto profissional. É verdade que a neurótica corrida de obstáculos do vestibular continua a ser realidade em centenas de instituições. Mas a missão de identificar a academia ideal vem sendo facilitada por sistemas cada vez mais exigentes de avaliação e fiscalização do ensino superior. Ferramentas criadas pelo MEC como o Provão, a análise de instalações das faculdades e a avaliação anual do currículo dos professores, jogaram em praça pública qualidades e defeitos antes discutidos apenas em salas de diretoria. E, mais importante, provocaram a saudável comparação entre bons e medíocres. O saldo mais positivo deste movimento foi o conhecimento de algumas ilhas de excelência do ensino privado brasileiro. Entre estas revelações está a Fundação Armando Álvares Penteado, a Faap, um conjunto de seis faculdades encravado entre os bairros nobres paulistanos de Higienópolis e Pacaembu. Este conjunto arquitetônico, vislumbrado a partir de um hall decorado com vitrais trabalhados à mão e moldagens de obras de Aleijadinho, abriga hoje um dos mais eficientes projetos de graduação e pós-graduação do País. “Levamos ao extremo a integração entre cultura, tecnologia e ensino”, afirma o engenheiro, professor e diretor cultural da instituição, Victor Mirshawka. “Surgimos há 52 anos como uma escola de artes plásticas. Hoje, unimos este patrimônio cultural a uma política agressiva de renovação tecnológica e implantação de novos processos de ensino. Estamos formando profissionais para atuar em um mercado cada vez mais competitivo, rigoroso e sem fronteiras”, completa o diretor.

A ousadia desta fundação com 12 mil alunos foi recompensada nos últimos meses com alguns atestados de qualidade. No ranking dos melhores cursos da última edição de ISTOÉ SEU FUTURO, o guia de vestibulandos da Editora Três, 250 educadores colocaram cinco graduações da Faap – Rádio e TV, Cinema e Vídeo, Desenho Industrial, Publicidade e Propaganda e Artes Plásticas – entre as melhores opções do País. Apesar de estar fora da lista, o curso de Administração de Empresas não faz feio. Os alunos fizeram o Provão do MEC entre 1996 e 1998 e, nos três anos, levaram conceito A.

A manobra para aprimorar o curso mistura uma forte formação teórica e o contato com bons profissionais e, para fazer a estratégia funcionar, as instalações da Faculdade de Administração passaram por uma reforma radical. O diretor, Henrique Vailati Neto, criou 15 salas-modelo com a cara de quem patrocinou a empreitada, em regime de parceria, ao custo unitário de R$ 80 mil. Na sala Bovespa, um dos espaços dedicados aos professores tem o formato de um pregão, com logotipo e tudo. O espaço batizado pela Unisys oferece um computador em cada mesa, em um espaço com capacidade para 35 alunos. A novidade para o ano 2000 é o curso de Gestão em Hotelaria, equipado com um módulo experimental que inclui um quarto de hotel e uma cozinha industrial com capacidade para 300 refeições diá-rias. As ofertas da graduação não são, no entanto, o único motivo de orgulho da Faculdade de Administração. Coordenado pelo vice-diretor Tharcísio Souza Santos, o Master Business Administration (MBA), pós-graduação em negócios internacionais, um curso de 18 meses que inclui 30 dias de aprimoramento na American University, em Washington, vem sendo disputado por executivos de todo o País. “Estamos, a um só tempo, produzindo a melhor escola de hoje e lançando as bases para a academia padrão do novo século”, afirma o professor Santos.

Às vezes, esta academia dos novos tempos é capaz de mostrar resultados em campos aparentemente opostos. Abriga, por exemplo, o Museu de Arte Brasileira, um acervo de mais de dois mil trabalhos, incluindo telas de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Di Cavalcanti e Ismael Nery. A mostra atual, uma das oito que o MAB realiza anualmente, radiografa a obra de Flávio de Carvalho, um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira. Em outro extremo, lança o “espaço do papel zero”, apelido dado a um local criado na Faculdade de Tecnologia com a pretensão de eliminar a caneta e os cadernos da rotina das aulas. Cada uma das 26 mesas da sala possui um lap top, ligado em rede ao computador principal. Os cálculos, exercícios e textos são projetados em um quadro e na tela dos alunos. A meta é criar mais 12 unidades iguais até o final de 2000 e, em cinco anos, encher 25% das salas de lap tops. A Engenharia, outra faculdade bem avaliada pelo Provão, faz experimentos para adaptar matérias complexas como Cálculo e Engenharia de Estradas às múltiplas possibilidades da informática. Outra decisão interessante foi a implantação de técnicas de desenvolvimento da criatividade como disciplina curricular no primeiro ano de todos os cursos. O programa de estudo foi montado em parceria com instituições americanas, num dos mais de 50 convênios mantidos com universidades de todo o mundo.

O mesmo ranking de ISTOÉ SEU FUTURO elegeu o curso de Cinema e Vídeo como o melhor do País, ao lado da USP. O departamento dispõe de uma filmoteca com 900 títulos, criados entre 1894 e 1990, e abriga uma sala de projeção com 40 lugares. “Receber emprestados equipamentos avaliados em US$ 200 mil para filmar é um privilégio para o aluno”, comemora Henrique Rodriguez, do nono semestre, diretor de Tabaco, um curta-metragem de 15 minutos, em 16 milímetros, com finalização marcada para dezembro. “O filme analisa as relações pessoais nas madrugadas de São Paulo”, explica a assistente de direção Carla Rodriguez.

A estrutura profissional também encanta Isabel Farinazzo e Luana Fazzio, do curso de Rádio e TV, segundo colocado na avaliação dos educadores. “O importante nesta área é a prática. E neste ponto estamos bem servidas”, comenta Luana, enquanto trabalha com a amiga no switcher, uma central de tratamento de imagem e áudio. O equipamento e as três ilhas de edição (uma delas digital) são as estrelas de uma parafernália avaliada em R$ 2 milhões. “Somos uma emissora completa. Falta o canal”, empolga-se o chefe do Departamento, Edson Gardin. O curso de Artes Plásticas, ponto de partida para a explosão de talentos como o de Jac Leiner e Leda Catunda, realiza anualmente uma mostra com o melhor da produção dos alunos. Entre os 37 trabalhos selecionados para a mostra deste final de ano estão A ver paisagem, experiência com tecido de Adriana Guivo, e um óleo sobre tela sem título de Fellipe Pieski. “Meus trabalhos não têm a rigidez das telas, mas, felizmente, a banca aprovou”, festeja Adriana, empolgada por ter sido uma das três premiadas da mostra com uma bolsa de 90% da mensalidade. “O objetivo do MEC é estabelecer uma competição produtiva entre as instituições”, revela o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. “As avaliações chamaram atenção para as faculdades bem administradas como a Faap, que teve a qualidade de alguns cursos, como o de Administração, comprovada pelo Provão”, completa ele. O importante é que, nas disputas, a Educação sempre vença.