Os 152 alunos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, que foram receber seus diplomas na última quarta-feira 10, não ouviram do paraninfo da turma, o professor José Teixeira Coelho Netto, votos de louvor, fé e esperança, como é de praxe nessas ocasiões. Em seu discurso, em vez de prever que os formandos terão uma bela e promissora carreira pela frente, sugeriu aos jovens que saem da Universidade diretamente para o olho do furacão que se preparem para enfrentar uma guerra. E ele não se referia ao competitivo mercado profissional. "São Paulo é a imagem de uma cidade em guerra, uma guerra civil, estampada agressivamente na cara de todos", afirmou o professor, para o desconforto de seus ouvintes. E ele tem razão.

No dia seguinte à noite, uma boa parte dos cerca de 70 milhões de brasileiros atingidos pelo raio de Bauru sentiu medo. Naqueles que moram em cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, e estavam na rua, o infantil medo do escuro aflorou à pele trazendo calafrios. Como se fosse um toque de recolher preventivo, a polícia saiu às ruas e recomendou às pessoas que não deixassem suas casas. Àqueles que tivessem de utilizar o carro que o fizessem em comboios. Para evitar os assaltos.

O presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego, o sr. Nelson Maluf Al Hage, veio a público e afirmou que havia ordenado o fechamento de todos os túneis da cidade. Para evitar acidentes nos túneis sem iluminação e sinalização?, perguntaria um desavisado sueco ou dinamarquês. Não. Para evitar os assaltos dentro deles. A cidade que, em situação normal, às claras, está batendo recordes de violência sem providências eficientes do Estado, às escuras mal conseguiu conter o pânico. Afinal, é em São Paulo que está boa parte da frota de mais de cinco mil carros blindados do País. Mais do que na Colômbia, onde existe uma guerra civil, declarada e assumida.

Voltando à formatura, em seu discurso, o professor também recomendou aos alunos que fossem pessimistas na análise e otimistas na ação. Sábio e muito útil pensamento do pensador marxista italiano Antonio Gramsci, razoavelmente difundido, mas pouco posto em ação. Prova isto o otimismo demonstrado pelo ministro das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, ao declarar singelamente, em sua análise do blecaute, que isto não mais iria acontecer e o pessimismo de sua ação, ao marcar a reunião para descobrir as causas do apagão, que deixou dez Estados sem energia por até quatro horas, apenas para o dia seguinte.


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