É como se várias caravelas lotadas de vascaínos tivessem aportado em plena praia do Arpoador para conquistar um território até então dominado por tribos rubro-negras. Graças à excelente fase que vive no futebol e em outros esportes, o Vasco da Gama deixa para trás a velha imagem de clube de portugueses da zona norte. Além de conquistar quatro títulos em 14 meses, o Vasco se moderniza e ganha adeptos no mundo fashion da zona sul. "Estamos ganhando tudo e vamos continuar assim", gaba-se a cantora e compositora Fernanda Abreu, símbolo maior do jeito zona sul de ser e musa vascaína que canta o hino do clube em todos os seus shows. A torcida rubro-negra continua sendo a maior do País, mas nos últimos meses as ruas do Rio foram invadidas por camisas, bandeiras e adesivos do Vasco. "O Rio entrou na vascomania", diz Fernandinha.

Até o insuspeito Júnior, ex-jogador e ídolo do arqui-rival vascaíno, o Flamengo, concorda. "O Vasco é hoje o melhor time do Brasil e, nessas fases, a torcida cresce." O crescimento chegou à venda de artigos esportivos com a marca do clube. "Nosso movimento triplicou nos últimos seis meses", diz o gerente Marco Antonio Abreu, da butique do Vasco. "Desde o ano passado, a camisa do Vasco é a mais procurada, vende duas vezes mais que a do Flamengo", garante Eduardo Carvalho, da rede de lojas Pró Esporte."Em dez anos, é a primeira vez que isso acontece."

"Tivemos que trabalhar muito para chegar aqui", afirma o vice-presidente e homem forte do Vasco, deputado Eurico Miranda. Marcado pela imagem de truculento e anacrônico, Miranda diz que o clube nasceu para quebrar preconceitos. Na década de 20, os portugueses que estavam na direção enfrentaram todo tipo de ataques ao tornar o Vasco o primeiro clube brasileiro a aceitar negros e operários em seu time. O futebol era então um esporte de elite.

O tabu também foi destroçado pela boa fase do clube. A juventude dourada da zona sul se derrete. "A torcida da areia está aumentando", brada Guilherme Tâmega, 26 anos, tetracampeão mundial de bodyboard, que terá na próxima temporada o patrocínio vascaíno. "É o primeiro clube de futebol do mundo a apoiar um esporte radical."

Nas torcidas organizadas das regiões de classe média alta, as inscrições aumentaram 50%. E, até no campo da moda, o clube está por cima. O estilista Amaury Veras, da griffe Frankie e Amaury, elogia. "É o uniforme mais bonito. O preto e o branco são cores elegantérrimas e o escudo com a caravela é um clássico", diz ele, torcedor do América. Sorry, rubro-negros.

 

Em busca de potência olímpica

O projeto de modernização da imagem do Vasco para conquistar novos torcedores continua de vento em popa. Montado na verba da parceria com o americano Nations Bank, o clube tem um orçamento de R$ 150 milhões para gastar este ano. Ainda em 1999 começam as obras de remodelagem do estádio de São Januário e a construção de um ginásio climatizado. Mas a prioridade de Eurico Miranda é transformar o Vasco em potência olímpica. Para conseguir o objetivo, não fez por menos: para a natação contratou nomes como Gustavo Borges e Luiz Lima, para o atletismo trouxe Robson Caetano e Ronaldo da Costa, formou um time de basquete capaz de conquistar o Sul-Americano masculino do ano passado e está armando fortes equipes de handebol e judô. O Vasco terá equipe também no vôlei de praia feminino. A dupla Adriana e Shelda está em negociação com o clube. "A estimativa é de que os atletas vascaínos conquistem 14 medalhas já nos Jogos Pan-Americanos", prevê Miranda.

São mais de 260 atletas que vão competir em diversos esportes, levando a cruz-de-malta no peito. "O projeto do Vasco me surpreendeu. Entrou nesse desafio para ganhar", acredita Luiz Lima, que na última Copa do Mundo de natação conquistou para o Brasil duas medalhas de ouro, três de prata e uma de bronze. Outro que se mostra entusiasmado é Robson Caetano. "Me identifiquei completamente com o projeto do Vasco e espero ficar aqui por muito tempo. Quem sabe, até depois de terminar a carreira, para formar as novas gerações de vascaínos."