No início do ano, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, guardou uma bomba na gaveta. Essa bomba, agora, está muito perto de explodir. Trata-se de um detalhado dossiê com indícios de corrupção praticada pelo pefelista Amazonino Mendes, governador do Amazonas. No inquérito, revelado por ISTOÉ em maio, o empresário Juarez Barreto Filho, dono da North American – empresa de importação e exportação com sede em Nova York –, admite ter pago propinas ao governador em troca de ter exclusividade na venda de geradores elétricos para o Estado. Para mostrar que dizia a verdade, Barreto Filho encaminhou à Procuradoria cópias de cheques no valor de US$ 2,1 milhões, ficha de abertura de conta assinada pelo governador no Maryland National Bank, em Luxemburgo, e um recibo de depósito de US$ 500 mil feito nessa conta. Para engavetar a explosiva papelada, Brindeiro usou uma declaração que teria sido feita pelo próprio Barreto Filho. Em 32 linhas, o empresário teria escrito que tudo o que dissera e mostrara era mentira. Bastou isso. Brindeiro não remeteu à perícia nenhum dos documentos entregues por Juarez. A novidade que poderá fazer a bomba engavetada explodir é que o empresário assegura jamais ter assinado tal documento.

“A declaração é falsa. Nunca inocentei o governador. Quero que o procurador faça as perícias necessárias em cada documento. Inclusive no falso desmentido”, desafia Barreto Filho. “Sou o maior interessado em levar esse caso até o final, pois depois que fiz as denúncias não consegui vender um parafuso para o Brasil”, lamenta. Se antes de inibir as investigações o procurador-geral tivesse submetido os papéis a exames técnicos, certamente saberia se a declaração apresentada pelo governador Amazonino Mendes era verdadeira ou não. O mesmo poderia ter ocorrido em relação aos demais documentos presentes no inquérito. “O arquivamento do caso sem um exame preliminar dos documentos foi precipitado”, diz o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Carlos Frederico dos Santos. “Agora, com essas novas informações fornecidas pelo autor das denúncias, o procurador-geral tem o dever de reabrir o inquérito”, sentencia Santos.

A declaração que levou Brindeiro a colocar na gaveta as acusações contra o governador Amazonino Mendes teria sido redigida em Nova York, no dia 24 de agosto do ano passado. Mas Barreto Filho diz ter se dirigido ao procurador duas semanas antes, através de uma carta registrada. Nessa carta, o empresário cobra o andamento das investigações, se colocando à disposição da Procuradoria para qualquer “esclarecimento futuro”. “Está evidente que houve má-fé e não apenas um deslize funcional no arquivamento feito por Brindeiro”, reclama o deputado estadual Eron Bezerra (PCdoB-AM). “O procurador-geral deve se afastar do cargo. Ele não tem condições morais para dirigir a Procuradoria.”

Para que o inquérito seja reaberto, basta uma iniciativa do próprio Brindeiro. Caso isso não ocorra, o deputado Bezerra pretende fazer um pedido formal para que as investigações sejam retomadas. Entre os procuradores da República, o engavetamento desse caso é visto como uma das melhores explicações sobre os motivos que levam Brindeiro a carregar a fama de o arquivador-geral da República.

 

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