Na última grande enchente de São Paulo, milhares de paulistanos execraram com toda razão a figura do prefeito Celso Pitta. Muitos tiveram tempo de sobra nos longos engarrafamentos para tomar o lugar do desprezado alcaide e imaginar soluções para vários problemas urbanos. Mas, por mais brilhantes que possam ser tais idéias, dificilmente qualquer desses cidadãos terá um dia a oportunidade de testar sua eficácia. A não ser virtualmente, como já fazem com prazer milhões de adeptos em todo o mundo do jogo para computador SimCity, que simula nos mínimos detalhes a vida e principalmente os problemas de uma grande metrópole. Ele agora chega a sua terceira versão, com recursos em três dimensões (3D). Concorrendo em pé de igualdade, também está sendo lançada a última versão, do Caesar, onde o jogador enfrenta os mesmos problemas, só que na Roma Antiga.

No mercado de jogos, o SimCity é um título multimilionário. Nos dez anos desde sua primeira versão, já vendeu mais de cinco milhões de cópias em várias línguas. Logo que a versão 3000 foi lançada nos Estados Unidos, no fim de janeiro, alcançou o primeiro lugar na lista dos mais vendidos em apenas três dias – no Brasil, já está disponível em português a R$ 80. E, embora esteja conquistando agora mais e mais adeptos entre o público juvenil, a grande maioria de sua legião de fãs ainda é formada por adultos, que se deliciam com a sensação de ser um prefeito eficiente, pelo menos na fantasia. Para atender tamanha demanda, a empresa que fabrica o jogo, a americana Eletronic Arts, abriu uma página na Internet (www.simcity.com) por onde é possível jogar pela rede com parceiros em qualquer lugar do planeta. Além dos recursos de imagem, o SimCity 3000 conta com novos artifícios, como o de zoom, que foca detalhes do tamanho dos pedestres andando nas ruas. Mas também requer mais habilidades do administrador urbano. Isso porque, como qualquer bom jogo de simulação, as cidades do SimCity 3000 – e do Caesar também – reagem às ações tomadas pelo jogador. "Se a qualidade de vida melhora, por exemplo, cresce o número de pessoas que se mudam para ela", explica Geraldo Prado, gerente da Eletronic Arts no Brasil. Se a polícia não é eficiente, o número de crimes cresce diante dos olhos. E assim por diante. Não bastassem esses problemas reais, na nova versão a cidade pode ser atacada por discos voadores com grande poder de destruição. Se quiser, o jogador pode começar sua cidade do nada. Construir vilas, estradas, hospitais, etc. Além do mais, tudo tem que ser feito dentro do orçamento. Senão, é apelar para os bancos, que cobram taxas de juros que podem tornar a dívida impagável. "Sem perceber, o jogador acaba adquirindo uma consciência mais apurada sobre cidadania", diz Paulo Roque, presidente da Brasoft, que traduziu e comercializa o Caesar no Brasil. "Por outro lado, pode arranjar uma bela encrenca com a mulher pelas horas que passar à frente do computador todas as noites", brinca ele, ao lembrar o poder de atração desse tipo de jogo.