Shana Riza foi namorada de Paul Wolfowitz, o falcão da Casa Branca que planejou a invasão do Iraque, em 2003, e criou a teoria dos ataques militares preventivos, síntese da odiosa política externa da era Bush. Quatro anos depois, quando se descobriu que Wolfowitz, então à frente do Banco Mundial, a favoreceu com uma promoção indevida, ele perdeu o emprego. Shana o derrubou.
Piroska Nagy foi amante de Dominique Strauss-Kahn, o socialista francês que ainda preside o Fundo Monetário Internacional. Na semana passada, quando a imprensa americana revelou que ela teria sido favorecida pelo chefe, DSK balançou. Piroska, que é casada com um ex-presidente do banco central argentino, talvez o derrube.
Shana e Piroska, com seus nomes peculiares, são duas musas a mais na imensa galeria de mulheres que já derrubaram poderosos – desde Cleópatra e Marco Antônio até Fernanda Karina e Marcos Valério. Escândalos dessa natureza são tão comuns que os franceses inventaram uma regra de ouro infalível. Para solucionar qualquer enigma, eles dizem cherchez la femme, ou seja, procurem a mulher.
O curioso é que essas tramas sexuais estejam minando a autoridade justamente das duas instituições que poderiam acabar com a atual orgia financeira global. Tanto o Banco Mundial quanto o FMI foram criados com o acordo de Bretton Woods, em 1944, já no fim da Segunda Guerra Mundial, para impor uma certa ordem ao capitalismo. Definiu-se que o presidente do Bird seria nomeado pelos Estados Unidos e que o Fundo seria liderado por um europeu. O que não se podia imaginar, àquela época, é que essas estruturas seriam abaladas por dois rabos-de-saia.
Tudo isso ocorre em meio a uma grande transformação econômica, com os Estados Unidos e a França duelando para definir quem irá liderar a criação da nova ordem financeira mundial. Wolfowitz sonhava com a eterna hegemonia da puritana América e vivia em Washington, onde o principal monumento é um obelisco fálico com 170 metros de altura. Strauss- Kahn planejava “refundar” o capitalismo e cresceu na luxuriosa Paris, onde o Arco do Triunfo foi construído com ampla concavidade para dar passagem às tropas vitoriosas de Napoleão. Os Estados Unidos são, por natureza, invasores; a França se vê como uma nação inclusiva e feminina. Eis aí o sexo das nações.
Pensando bem, nenhum homem pode escapar do seu destino. Wolfowitz e Strauss-Kahn o encontraram num leito ardente.