As lojas estão liquidando as suas coleções de inverno e muita gente nem imagina como serão as roupas no verão. Somente os oito mil convidados do MorumbiFashion, o principal evento de moda do País, realizado na semana passada em São Paulo, sabem o que vai na cabeça dos estilistas que participaram do evento, uma espécie de balão de ensaio das tendências de moda. Mas nem todo mundo consegue traduzir o que vai nas passarelas. É bom saber, portanto, que o cinza e a apatia do inverno serão trocados por cores solares, estampas geométricas e muito brilho. As tendências ditadas pelas grifes começam nos anos 40 e se estendem por ensaios de futurologia. Como sempre, na hora de comprar, vale o bom senso.
É provável que você nunca saia à rua usando um quimono de seda assinado por Fause Haten. Mas pode abusar dos vestidos de malha com estampas inspiradas em brincadeiras infantis criadas por ele, ou algumas de suas peças luminosas como camisetas e calcas bordadas de paetês. Este ano os estilistas tiraram as lantejoulas dos bailes de gala para trazê-las ao dia-a-dia. O vanguardista Alexandre Herchcovitch utilizou-as em vestidos inteiros, brincando com paetês reflexivos em tons laranja, pink e um prata que lembram luzes estroboscópicas. Nas coleções mais comerciais, o material aparece em camisetas regata, calças jeans e mangas de jaquetas, além de biquínis. Tufi Duek, da Forum, avisa que essas peças só devem ser usadas em festas ou danceterias. Já Haten discorda. Para ele, brilhos são bem-vindos a qualquer hora do dia. “Chamo isso de moda de atitude”, diz.

Em clima retrô, camisas ou frentes-únicas de seda, cetim, chiffon e outros tecidos bem leves deixam a mulher extremamente sensual. As costas à mostra ou um colarinho displicentemente aberto vêm para provar que não é pecado exibir o corpo. Isso sem falar nos decotes, cada vez mais profundos. “A mulher brasileira, sensual e vibrante, está na moda”, afirma Carlos Miele, da M. Officer. “Quem é moderna não tem receio de mostrar o colo, as costas”, completa Waldemar Iódice.
Colants em tons vibrantes como vermelho, pink, amarelo e verde-limão estão de volta, e devem ser usados com saia ou calça. Outros hits dos anos 80, como cinturão largo e faixa para amarrar na cintura, chegam para fazer par com sapatos bicolores e pequenas bolsas de mão. Até mesmo itens do vestuário considerados ultrapassados, como o legging (espécie de calça fusô, antes restrita às aulas de ginástica) ganham espaço. A peça é novamente curinga do guarda-roupa: aparece com listras, bordada de lantejoulas e até conjugada com short ou saia. “Nossa intenção foi trazer para a vitrine elementos queridos pelas mulheres”, comenta Renato Loureiro, da ala mineira da moda. “Uma faixa na cintura, por exemplo, pode ser útil para regular o comprimento da roupa. Usa quem quer, da forma como se sentir melhor.”

Essa mesma regra justifica a decisão de várias grifes em lançar jaquetas, calças ou shorts de couro para serem usados na estação mais quente do ano. “Já é hora de acabar com essa história de roupa com prazo de validade”, decreta Fause Haten. Ele e estilistas de marcas como Ellus, Zoomp e Forum apostam que a pose de roqueira vai estar em alta. As peças vêm nas cores vermelho, preto, branco ou uva. Feitas de couro mestiço, mais leve que o do inverno, têm um caimento mais justo que o usual. Para combinar com esse visual moderno, botas de cano alto e salto agulha, de couro ou cetim – as sandálias plataforma, que foram moda nos útimos dois anos, devem perder de vez lugar nas prateleiras.

Esporte – A velha calça jeans aparece reta, pintada com glitter (espécie de purpurina) ou lavada. De carona nas Olimpíadas de Sydney, em setembro, também começam a se multiplicar as peças de design esportivo. Além do tactel e do neoprene, há uma infinidade de tecidos emborrachados cortados a laser e também uma nova fibra de celulose chamada tencel. E é claro que a maior parte das lojas encomendou seu estoque de bermudas-ciclista.

Para quem tem um estilo romântico, a opção é usar vestidos estampados. Motivos geométricos, listras, flores ou, no caso da Forum, carambolas, cajus e bananas, virão em tecidos leves e com corte jovial. Saias na altura do joelho serão bem-vindas. Podem ser plissadas, drapeadas, com pespontos, retalhos ou bordados. Ou até como as das bailarinas, com inúmeras camadas de tule e toques de cristal Swarovski. Como também será moda usar meia de lurex com sandálias de salto alto e pulseiras de plástico multicoloridas. Com tantas cores e brilhos, no entanto, é preciso muito cuidado na hora de combinar as peças. Afinal, ninguém quer ficar com a cara da Emília, do Sítio do Pica-pau Amarelo.

Pesadelo feminino

 

 

Nem os ícones da beleza escapam da celulite. Estrela principal do desfile da Forum, a modelo Fernanda Tavares, 19 anos, não foi perdoada quando pisou na passarela do MorumbiFashion vestindo uma tanga de couro que deixava à mostra incômodos furinhos no bumbum. A descoberta rendeu notas picantes nos jornais e instalou uma caça às “bruxas” no evento. No desfile dedicado à moda praia, olhos curiosos percorriam cada centímetro do derrière de tops como Ana Cláudia Michels, Mariana Weickert ou Carolina Bittencourt. Queriam constatar – e conseguiram – que, mesmo magras, elas também têm as imperdoáveis marcas da celulite.
O problema ataca principalmente o bumbum e as coxas de 80% das mulheres. Caracteriza-se por um conjunto de alterações no tecido conjuntivo (camada da pele formada pela derme e hipoderme) que forma aquele aspecto de casca de laranja. “A celulite é resultado de diversos fatores”, explica o dermatologista paulista Otávio Roberti Macedo. A herança genética e a ação dos hormônios femininos estão entre as causas mais importantes. Outros fatores de risco podem ser facilmente identificados no dia-a-dia de Fernanda e de outras modelos. Alimentação desregrada, falta de exercícios (elas não podem ficar “marombadas”) e o stress são ótima combinação para deflagrar o problema.

A celulite representa um segmento lucrativo do mercado de cosméticos. Há dezenas de métodos e produtos, desde técnicas como o ultra-som (as ondas destroem as células de gordura) e a eletrolipoforese (cargas elétricas por meio de agulhas metabolizam a gordura) até a drenagem linfática (massagem manual ou mecânica). Cremes tópicos, adesivos, a subcisão (técnica cirúrgica para casos mais avançados) e a cápsula Cellasene (com extratos de gingko biloba, centella asiática e sementes de uvas secas), também são alternativas procuradas. Mas os dermatologistas recomendam cautela. “Milagres não existem. A celulite precisa ser atacada de várias formas. Isso inclui reeducação dos hábitos alimentares e a prática de exercícios”, diz Ediléia Bagatin, da Universidade Federal de São Paulo.
A celulite é um pesadelo para as mulheres, mas muitos homens dizem não se importar com ela. “O tesão acaba por causa de problemas como mau hálito, falta de imaginação ou de capacidade para amar”, explica o sexólogo Moacir Costa. “Também pode ser uma justificativa para conflitos íntimos relacionados com a diminuição do seu impulso sexual”, analisa Costa. O psiquiatra Táki Cordáz, do Hospital das Clínicas de São Paulo, acha que os homens podem não se preocupar com a celulite, mas seu ideal de beleza continua sendo a mulher da revista. O choque com a celulite da modelo, entretanto, deixa claro que objetos do desejo como Fernanda e suas colegas não têm permissão para exibir sinais que desmanchem a atmosfera de sonho que as torna inacessíveis. Senão, viram seres de carne e osso.

Mônica Tarantino